Empresas acusadas de ameaçar migrantes para não se sindicalizarem

A situação dos imigrantes que trabalham na agricultura em Odemira, distrito de Beja, "é tão precária" que "algumas empresas" ameaçam os trabalhadores com o despedimento para não se sindicalizarem, afirmou hoje a coordenadora da união distrital de sindicatos.

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Lusa
07/05/2021 17:44 ‧ 07/05/2021 por Lusa

Economia

Odemira

 

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"Algumas empresas, e nomeadamente uma no concelho de Odemira, onde tínhamos um conjunto de trabalhadores sindicalizados, [ameaçaram funcionários] de que, se continuassem, perdiam o emprego, porque para o lugar deles havia muitos outros", afirmou Maria da Fé Carvalho.

Segundo a coordenadora da União de Sindicatos do Distrito de Beja (USDB), os sindicatos sentem "muitas dificuldades" para chegar aos trabalhares agrícolas imigrantes de Odemira.

"A condição deles é tão precária que a própria sindicalização, para lutarem pelos seus direitos, se torna complicada, porque, às vezes, ser sindicalizado quer dizer que perde o emprego", sublinhou.

A dirigente sindical sublinhou que nessas empresas podia aplicar-se o contrato coletivo de trabalho do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB).

Maria da Fé Carvalho falava aos jornalistas em Beja, numa conferência de imprensa realizada na cidade alentejana em conjunto com o SINTAB e que também contou com a participação do coordenador deste sindicato.

Fernando Rodrigues realçou que a situação destes trabalhadores agrícolas foi denunciada pelo sindicato "ao longos destes anos" junto da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), das autarquias e na própria GNR.

"Está em foco a região do Alentejo e é verdade que são casos extremamente graves, mas isto é um problema que se estende a todo o país", alertou o sindicalista.

O coordenador do SINTAB frisou que "nada é feito" e que a ACT não dá resposta às "denúncias feitas ao longo dos anos" pelo sindicato, indicando que até são apresentados às entidades "os locais e as empresas" onde são identificados problemas.

"Esperamos que, depois de a pandemia ter posto a nu este problema da imigração e do trabalho sem qualquer direito, de uma vez por todas, as entidades tenham uma intervenção efetiva para a resolução do problema", afirmou.

As freguesias de Longueira-Almograve e São Teotónio, no concelho de Odemira, estão em cerca sanitária desde a semana passada por causa da elevada incidência de covid-19 entre os imigrantes que trabalham na agricultura na região.

Na altura, o Governo determinou "a requisição temporária, por motivos de urgência e de interesse público e nacional", da "totalidade dos imóveis e dos direitos a eles inerentes" que compõem o complexo turístico ZMar Eco Experience, na freguesia de Longueira-Almograve, para alojar pessoas em confinamento obrigatório ou permitir o seu "isolamento profilático".

Foi também determinado enviar também imigrantes para a Pousada da Juventude de Almograve.

Na quinta-feira, em Conselho de Ministros, o Governo decidiu que a cerca sanitária aplicada nas freguesias de São Teotónio e Longueira-Almograve vai manter-se, mas com "condições específicas de acesso ao trabalho" a partir de segunda-feira.

Um total de 49 imigrantes que trabalham na agricultura no concelho de Odemira, no distrito de Beja, todos com testes negativos para o novo coronavírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, foram realojados, tendo uns sido colocados no Zmar e outros na Pousada da Juventude de Almograve, na quinta-feira de madrugada.

Leia Também: Migrantes de Odemira vivem em precariedade há muitos anos, diz bispo

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