Joe Berardo foi detido, esta terça-feira, por suspeitas de fraude à Caixa Geral de Depósitos (CGD), na sequência de um mandado emitido pela Polícia Judiciária (PJ) e pelo Ministério Público. Contudo, em 2019, numa audição polémica no Parlamento, o empresário garantiu aos deputados que é "claro" que não tinha dívidas.
"Pessoalmente não tenho dívidas. Claro que não tenho dívidas", disse Joe Berardo durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD, que decorreu na Assembleia da República, em Lisboa, em maio de 2019.
O empresário fez as afirmações em resposta à deputada do BE Mariana Mortágua, que tinha perguntado por que é que Berardo "não paga o empréstimo à banca ou dá a garantia que aparentemente foi dada aos bancos quando fez um acordo de renegociação em 2008 e reiterou em 2011", se dá mostras públicas de riqueza e de ser "multimilionário".
A deputada do BE disse que viu o empresário "em 2017 na revista Flash a louvar os grandes lucros da Bacalhôa [quinta que pertence à Fundação Berardo], e em janeiro de 2019 sem problemas em mostrar a sua imagem pública, a mostrar a sua mansão no programa do [apresentador Manuel Luís] Goucha".
"Eu chego aqui, ao parlamento, e na porta e diz 'esta é a minha casa'. É de todos, não é só de vocês. Eu pessoalmente não tenho dívidas, tenho tentado ajudar. Claro que não tenho dívidas", declarou, na altura, o empresário.
Recorde aqui o momento:
“Eu pessoalmente não tenho dívidas”, diz Joe Berardo na Assembleia da República em resposta a @MRMortagua. pic.twitter.com/TYRQgu8VUS
— esquerda.net (@EsquerdaNet) May 10, 2019
Segundo a auditoria da EY à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 2000 e 2015, o banco público tinha uma exposição à Fundação Berardo e à Metalgest, sociedades do universo do empresário, na ordem dos 321 milhões de euros.
Berardo e o seu advogado serão ouvidos pelo juiz Carlos Alexandre
Ora, Joe Berardo e o seu advogado André Luís Gomes foram hoje detidos no âmbito de uma operação que visou "um grupo económico" que terá lesado vários bancos. Ambos deverão ser ouvidos pelo juiz Carlos Alexandre nas próximas 48 horas.
A PJ indica em comunicado que se trata de um grupo "que entre 2006 e 2009 contratou quatro operações de financiamentos com a Caixa Geral de Depósitos, no valor de cerca de 439 milhões de euros" e que terá causado "um prejuízo de quase mil milhões de euros" à Caixa, ao Novo Banco e ao BCP.
Ao que indica a TVI24, o empresário madeirense é suspeito dos crimes de administração danosa, burla qualificada, fraude fiscal e branqueamento.
"Este grupo tem incumprido com os contratos e recorrido aos mecanismos de renegociação e reestruturação de dívida para não a amortizar", acrescenta a PJ no mesmo comunicado.
A PJ fez 22 buscas domiciliárias, 25 não domiciliárias, três buscas numa instituição bancária e uma num escritório de advocacia.
Na investigação, que começou em 2016, foram identificados "procedimentos internos em processos de concessão, reestruturação, acompanhamento e recuperação de crédito contrários às boas práticas bancárias". Os investigadores procuram indícios de "atos passíveis de responsabilidade criminal e dissipação de património".
Voltando à audição de maio de 2019, considerando que muitas perguntas dos deputados não deviam ser feitas a si, mas aos bancos que lhe concederam créditos, Joe Berardo respondeu assim a uma interpelação feita pelo deputado do PCP Duarte Alves, que questionou o empresário sobre como conseguiu, em 2006, 50 milhões de euros para compra de ações através da empresa Metalgest, que tinha então um volume de negócios de apenas 50 mil euros e um resultado operacional bruto (EBITDA) negativo:
"Pergunte à Caixa, eles é que me emprestaram o dinheiro", afirmou Berardo. Questionado ainda pelo deputado comunista sobre por que pediu dinheiro usando diferentes entidades - Metalgest, Fundação Berardo - o empresário respondeu "pergunta bem". "O meu trabalho é ir pedir dinheiro, para rentabilizar, não deu certo, na vida é assim", acrescentou.
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