"Há uma coisa pela qual vamos lutar, que é pela ajuda do Estado português. É o primeiro grande investimento que Timor-Leste faz num país, é uma coisa nova. E, portanto, tem um interesse estratégico e político muito grande", disse à agência Lusa Bruno Costa, gerente da AtlanticEagle Shipbuilding, empresa cujo sócio maioritário é uma sociedade de desenvolvimento criada pela Região Administração Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), de Timor-Leste.
"A partir de agora [do investimento de Timor-Leste na recapitalização dos estaleiros navais] Timor também espera do Estado português algum tipo de apoio a este investimento que está a fazer", argumentou Bruno Costa.
Essas ajudas, segundo o gerente dos ENM, passam por eventuais apoios à recuperação das infraestruturas dos estaleiros navais -- afetadas ao nível das coberturas dos pavilhões e outros danos pela tempestade Leslie de outubro de 2018, meses após os estaleiros terem suspendido a atividade por dificuldades financeiras -- mas também "pelas condições" das rendas que a empresa de construção e reparação naval paga à administração portuária da Figueira da Foz, adiantou.
Há seis anos, em 2015, o Governo timorense adjudicou à AtlanticEagle Shipbuilding a construção de um ferry, o Haksolok, destinado à ligação com o enclave de Oecusse e a ilha de Ataúro, para além de dois pontões de acostagem e passadiços. Devido às dificuldades financeiras da empresa, o navio não foi concluído.
Após um pedido de insolvência, a AtlanticEagle Shipbuilding viu aprovado em 96% um Plano Especial de Recuperação, com os votos favoráveis da Autoridade Tributária, Segurança Social e do seu maior credor, precisamente a RAEOA.
Bruno Costa disse que o investimento de 14 milhões de dólares (cerca de 11,8 milhões de euros) de Timor-Leste na capitalização da empresa detentora dos ENM "não é um investimento só para acabar o ferry e os pontões", mas também para que a empresa possa competir no mercado nacional e internacional e ser competitiva.
"Era muito importante, importantíssimo, que o Governo português também ajude nesta iniciativa, que é de um país irmão. Espera-se do Estado português uma ajuda, uma abertura, para, de alguma forma, agradecer, entre aspas, esta entrada [de Timor-Leste no estaleiro], que vai recuperar uma indústria, a da construção naval", argumentou Bruno Costa.
Ouvido pela Lusa, Carlos Monteiro, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz considerou a recuperação dos Estaleiros Navais do Mondego como "extremamente importante para a Figueira da Foz e para o país".
"Nós fomos sempre exercendo todas as influências e dando todo o apoio necessário para que os estaleiros reabrissem. E [a reabertura] também é importante para Timor-Leste, porque tem aqui um ativo que está parado, que é a embarcação que precisa de recuperar", frisou o autarca.
Por outro lado, Carlos Monteiro destacou a recuperação de cerca de 40 postos de trabalho -- onde se incluem trabalhadores dos ENM, que têm a sua atividade suspensa há mais de três anos, mas também outros que a AtlanticEagle Shipbuilding quer contratar.
Quanto à possibilidade de apoios estatais, o presidente da câmara crê que estarão em causa apoios relacionados com as rendas pagas pelos estaleiros à administração portuária, "nomeadamente algumas que estarão em atraso".
"E, independentemente de a indústria naval ser importante no concelho da Figueira da Foz, ela também é muito importante em termos nacionais. E hoje, quando estamos na agenda da mitigação das alterações climáticas e da economia azul, mais pertinente é o funcionamento dos estaleiros", afirmou.
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