É a mais antiga empresa de vinhos de Portugal e a sua história cruza-se com a criação da Região Demarcada do Douro. Ambas celebram 265 anos a 10 de setembro.
Mas, ao mesmo tempo que quer preservar a história e o património, a RCV está, segundo o presidente Pedro Silva Reis, "sempre a inovar".
"Completamos 265 de atividade ininterrupta e é uma empresa que procura adaptar-se aos tempos, às tendências de mercado, na medida do possível antecipando-as, e isso obriga-nos a investimentos contínuos", afirmou à agência Lusa.
Foi o caso da máquina de vindimar adquirida em 2021, num investimento de 250 mil euros, depois de anos de aluguer deste equipamento e de preparação das vinhas.
"A mão de obra é pouca o que nos obriga a pensar muito seriamente na mecanização, eu diria em última instância, como uma forma de sobrevivência", salientou Pedro Silva Reis.
Para além de "aliviar" a pressão de falta de trabalhadores, já que atualmente as cinco quintas da RCV estão "prontas para vindimar ao mesmo tempo", o responsável apontou ainda a vantagem da disponibilidade para o "momento ideal de vindima" e salientou que "as máquinas de vindimar já levam cerca de 40 anos de evolução".
Os terrenos íngremes do Douro são um obstáculo à mecanização, no entanto, a empresa tem propriedades em zonas de planalto onde a máquina pode e está a atuar.
É o caso da Quinta do Casal da Granja, em Alijó, no distrito de Vila Real, onde a viatura faz, por dia, o trabalho de um grupo de 50 pessoas.
"Facilita-nos muito a gestão da vindima porque o 'timing' da vindima é uma janela de oportunidade, uma janela limitada e é, para nós, muito importante apanhar a uva no momento certo de maturação", explicou Rui Soares, coordenador de viticultura da RCV.
A máquina possui um conjunto de batedores que sacodem as uvas de um lado e do outro da linha de videiras, retirando apenas os bagos dos cachos que são transportadas para um reservatório, depois descarregado para uma outra viatura e rapidamente transportados para a adega.
E este é um investimento que será rentabilizado ao longo do ano, já que a máquina está apta a fazer outros trabalhos na vinha, como a pré poda no inverno, o levantamento da vegetação e os tratamentos na primavera e, no verão, a desponta.
Para o equipamento operar é preciso, para além do relevo que não pode ter uma inclinação superior a 35 graus, boas acessibilidades e espaço para as manobras de viragem, e os esteios da vinha não podem ser os tradicionais de xisto.
Dos 550 hectares de vinha da empresa, dispersos por cinco quintas, 100 estão aptos à vindima mecânica.
A RCV está também a apostar na aquisição de vinha velha. Junto à Quinta das Carvalhas, sobranceira ao rio Douro, em São João da Pesqueira, no distrito de Viseu, comprou 23,5 hectares com idades compreendidas entre os 80 e os 100 anos, num investimento de mais de um milhão de euros.
Esta é, segundo Pedro Silva Reis, uma forma de "assegurar a preservação" deste património "arquitetónico, cultural e paisagístico", cujas uvas são colhidas para vinhos topo de gama. São videiras que produzem menos quantidade, mas que se transformam em mostos "com concentração e estrutura que fazem a diferença".
Na designação de "Vinhas Velhas" aprovada para a região demarcada e que pode constar na rotulagem dos vinhos do Douro e Porto, a idade mínima considerada é de 40 anos e a vinha tem de ter, pelo menos, quatro castas diferentes.
Para além da constante reconversão das vinhas, ao longo dos anos a empresa tem também preservado os tradicionais muros de xisto de pedra posta. Nas Carvalhas foram recuperados 40 mil metros quadrados de muros em 15 anos.
Segundo o presidente, a aposta no enoturismo vai ser reforçada com a criação de um circuito de visita e de prova na Quinta do Cidrô, em São João da Pesqueira, e também com um circuito para bicicletas no planalto de Alijó, sendo este um projeto conjunto com outros produtores locais.
Depois das quebras provocadas pela pandemia em 2020, as vendas de vinho da RCV estão a recuperar e, no primeiro semestre de 2021 "estavam ligeiramente acima de igual período de 2019".
Pedro Silva Reis prevê que, este ano, as exportações atinjam os 65% das vendas, adiantando que o mercado externo está a "recuperar mais rapidamente" do que o interno.
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