"Em resultado do aumento dos riscos financeiros, políticos e económicos, baixámos o nosso rating sobre a moeda local e estrangeira de B para CCC+/C, e colocámos o país em CreditWatch [avaliação permanente sobre a qualidade do crédito]", lê-se na nota enviada à Lusa.
A S&P afirma que "a qualidade do crédito do Burkina Faso pode deteriorar-se nos próximos meses, devido à incerteza política, que pode limitar a capacidade do Burkina para servir a sua dívida comercial, ou por reduzido acesso a financiamento, dificuldades administrativas, ou pelo desvio de recursos financeiros por parte dos militares, que serviriam para suportar o serviço da dívida".
Este golpe, concluem os analistas da S&P, "pode desestabilizar não só o Burkina Faso, mas também levar a abrangentes sanções económicas e financeiras por parte da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), tal como já tomou contra o vizinho Mali na sequência de um recente golpe militar".
O Presidente Roch Marc Christian Kaboré foi derrubado por um corpo militar liderado por um tenente-coronel, Paul-Henri Sandaogo Damiba, que lidera agora o chamado Movimento Patriótico para a Salvaguarda e Restauração (MPSR).
O MPSR começou por anunciar a dissolução ou suspensão das instituições da República, bem como o encerramento das fronteiras aéreas do Burkina Faso, mas estas foram reabertas logo na terça-feira, tal como as fronteiras terrestres para certos produtos, o que parece indicar que a junta militar no poder não tem medo de um "contra-ataque" e está a controlar os vários corpos do exército.
Sandaogo Damiba, um especialista na luta contra os grupos terroristas, que atacam população e instituições do país desde 2015, deverá reunir-se hoje com a hierarquia do exército, assim como com altos funcionários da administração pública para discutir assuntos correntes, enquanto o país aguarda a formação de um novo Governo.
O golpe no Burkina Faso, que sucede aos golpes no Mali e na Guiné-Conacri, foi condenado pela comunidade internacional, que exige a "libertação imediata" do Presidente derrubado.
Josep Borrell, o chefe da política externa da União Europeia, advertiu hoje que "se a ordem constitucional não for restaurada", haverá "consequências imediatas na parceria [europeia] com o país".
A CEDEAO deverá realizar uma "cimeira extraordinária" nos próximos dias, que pode resultar na imposição de sanções ao país.
União Africana e ONU condenaram igualmente o golpe de Estado. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse que "os golpes militares são inaceitáveis".
A única voz dissidente veio de Moscovo, onde o empresário Yevgeny Prigozhin, próximo de Vladimir Putin e líder do grupo paramilitar Wagner, presente em vários países africanos, saudou o golpe como sinal de uma "nova era de descolonização" em África.
O Presidente Kaboré, no poder desde 2015 e reeleito em 2020 com a promessa de colocar um ponto final no aumento dos ataques terroristas no país, vinha a ser cada vez mais contestado por uma população atormentada pela violência de vários grupos extremistas islâmicos e pela incapacidade das forças armadas do Burkina Faso responderem ao problema da insegurança.
Na terça-feira de manhã, centenas de manifestantes desceram à Praça da Nação, no coração de Ouagadougou, em apoio aos golpistas.
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