As taxas de juro estão a subir e a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, já avisou que esta tendência deverá manter-se nos próximos meses. Contudo, apesar de este acréscimo já se refletir nas prestações mensais do crédito da casa, a verdade é que os depósitos dos portugueses continuam sem rentabilidade, mas a perspetiva é que estes juros também aumentem.
"As taxas dos depósitos dependem da política comercial do banco, são uma decisão do banco, ao contrário das prestações dos créditos à habitação que normalmente estão indexados à Euribor. Além disso, os juros dos depósitos representam um custo para o banco, enquanto os juros das prestações são uma receita. E, durante alguns anos, os bancos tiveram uma diminuição de receitas relativa aos juros dos créditos devido às Euribor negativas. Por isso, os bancos estão a adiar a subida dos juros nos depósitos e não estão a refletir as subidas da taxa diretora nos seus preçários", explicou António Ribeiro, especialista em assuntos financeiros da DECO Proteste, ao Notícias ao Minuto.
Na opinião de António Ribeiro, isto não é, porém, uma novidade: "Normalmente, quando as taxas diretoras descem, os bancos replicam imediatamente essas descidas; mas quando as taxas diretoras sobem os bancos são muito mais lentos a refletir a subida e nunca na mesma proporção".
Nos próximos meses, vamos assistir de forma lenta, ao 'descongelamento' das taxas dos depósitos
A presidente do BCE anunciou, no final do mês passado, o aumento das taxas de juro nas próximas reuniões do Conselho do BCE, sendo que a próxima é em 27 de outubro, numa tentativa de combater a inflação. Segundo Lagarde, se o BCE não optar por esta via, as consequências para a economia serão mais graves do que o aumento do custo do crédito.
E os depósitos? Vão acompanhar este aumento?
O especialista em assuntos financeiros da DECO Proteste considera que "lentamente, alguns bancos vão alterando os seus preçários", sendo que, "por enquanto, poucos bancos subiram as taxas, mas alguns já o fizeram com aumentos bem inferiores aos da taxa diretora".
"Desde julho, o Banco Central Europeu já subiu em 1,25% a taxa diretora, mas os bancos estão ainda longe de refletir essas subidas nos preçários. Um deles subiu em 0,5% a remuneração de alguns depósitos e outro subiu em 1%, mas geralmente essas subidas são em contas promocionais para novos clientes ou novos montantes. Assim, nos próximos meses, vamos assistir de forma lenta, ao 'descongelamento' das taxas dos depósitos", conclui António Ribeiro.
A taxa base é já de 2,106% bruta, ou seja, rendem 1,5% líquidos, superando os depósitos a prazo
"É importante diversificar". Onde investir, então, o dinheiro?
Para os investidores mais cautelosos, que não querem correr riscos e preferem os produtos de capital garantido, "os Certificados de Aforro são o produto que tem beneficiado da subida da Euribor", explicou António Ribeiro ao Notícias ao Minuto.
Os Certificados de Aforro, refira-se, são "instrumentos de dívida criados com o objetivo de captar a poupança das famílias" e "têm como característica principal o serem distribuídos a retalho, isto é, serem colocados diretamente juntos dos aforradores e terem montantes mínimos de subscrição reduzidos", explica a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), no seu site.
"A taxa base dos Certificados de Aforro é calculada todos os meses de acordo com os valores da Euribor a 3 meses do mês anterior, por isso, a subida das taxas Euribor reflete-se imediatamente na taxa base dos Certificados. Depois de um longo período em que a taxa base dos certificados esteve em 0,3% líquida, nos últimos meses encetou um caminho de subida bem significativo: em outubro, a taxa base é já de 2,106% bruta, ou seja, rendem 1,5% líquidos, superando os depósitos a prazo", acrescenta o especialista da DECO Proteste.
Contudo, este aumento está limitado, prossegue António Ribeiro, uma vez que a "fórmula de cálculo define um teto máximo de 3,5% bruto na taxa base", o que significa que "se a Euribor a três meses continuar a subir ao mesmo ritmo, é provável que já no próximo ano se atinja esse teto máximo, pelo que o rendimento líquido efetivo, para quem investir em Certificados de Aforro pelo prazo máximo de 10 anos, não deverá ser muito diferente de 2,8% líquidos ao ano, segundo as nossas simulações".
Ainda assim, "é o melhor que encontramos nos produtos de capital garantido e, por isso, temos recomendado a subscrição", diz o especialista da DECO.
Quem tem algum dinheiro para investir, especialmente montantes elevados e não necessita desse dinheiro a curto e médio prazo, deve também considerar o investimento em fundos, mais numa ótica de longo prazo
António Ribeiro sublinha que "é importante diversificar" e "quem tem algum dinheiro para investir, especialmente montantes elevados e não necessita desse dinheiro a curto e médio prazo, deve também considerar o investimento em fundos, mais numa ótica de longo prazo". Isto porque "com o rendimento dos produtos de capital garantido não vai conseguir superar a inflação".
O BCE aumentou as taxas de juro em julho pela primeira vez desde 2011. Nessa ocasião, a taxa de juro de referência subiu 0,50 pontos percentuais. Numa segunda etapa, em setembro, registou-se uma subida de 0,75 pontos percentuais, de modo que a taxa de juro de referência se situa agora em 1,25%.
O BCE considera que a estabilidade de preços deve ser assegurada quando a inflação homóloga é ligeiramente inferior a 2,0%.
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