De acordo com o 'Boletim de Utilização das Infraestruturas de Gás' da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) relativo ao quarto trimestre de 2022, "o consumo de gás em Portugal, em 2022, foi de 61,8 TWh (59,9 TWh, excluindo as redes abastecidas por UAG [Unidade Autónoma de Gás]), menos 3,3% do que no mesmo período do ano anterior".
Segundo o regulador, "este decréscimo do consumo de gás é especialmente visível no segmento industrial (-32,7% no consumo industrial em alta pressão), mas também nos consumidores mais pequenos (-11,5% no consumo das redes de distribuição)".
"O consumo final de gás ('consumo convencional') regista, portanto, uma variação homóloga negativa de 23%, atingindo 33,7 TWh (31,8 TWh sem as redes de UAG)", acrescenta.
Conforme destaca a ESRE, "este período está preponderantemente marcado pela elevada volatilidade nos preços de gás, no contexto da agressão militar da Rússia na Ucrânia".
No que diz respeito ao consumo de gás para produção de energia elétrica, "o valor foi de 28,1 TWh em 2022, correspondendo a um crescimento de 26% face ao período homólogo de 2021".
Explicando que "o aumento do consumo das centrais a gás está associado ao prolongado período de seca e à desativação das centrais a carvão", o regulador destaca que "o ano de 2022 foi marcado pela primeira injeção de hidrogénio nas redes de gás em Portugal, através do projeto-piloto da Setgás".
De acordo com a ERSE, "o terminal de GNL [gás natural liquefeito] de Sines foi a principal infraestrutura de entrada de gás natural no Sistema Nacional de Gás (SNG)", tendo representado em 2022 cerca de 60 TWh e 93% do gás natural importado e injetado na Rede Nacional de Distribuição de Gás (RNTG).
"O Terminal de GNL de Sines realizou 70 operações de descarga de navios metaneiros, sendo este o valor mais elevado de sempre e representando um aumento em 9,4%, face a 2021", detalha, acrescentando que a receção de GNL foi de 63,3 TWh.
O gás recebido no Terminal de GNL teve diferentes origens, com destaque para a Nigéria (34 navios metaneiros), EUA (24), Trinidad & Tobago (8), Rússia (3) e Guiné Equatorial (1).
O regulador destaca que "a utilização do Terminal de GNL de Sines tem sido praticamente plena, sendo a capacidade firme de regaseificação totalmente contratada pelo quarto ano-gás consecutivo".
"Em 46% dos dias, a regaseificação atingiu mais de 90% da capacidade disponível", refere, enfatizando que "a taxa de utilização da capacidade de regaseificação de GNL em Portugal (84%) foi a maior da Europa em 2022".
Além da regaseificação para a RNTG, o Terminal de GNL oferece outros serviços, como o carregamento de cisternas, tendo em 2022 sido abastecidas 6.592 cisternas de GNL, correspondentes a 1,9 TWh, o que representa uma quebra de 12,4% face a 2021.
No mesmo boletim, e no que se refere ao armazenamento subterrâneo de gás, a ERSE adianta que, a nível europeu, o valor do gás armazenado em cavernas atingiu 94% em 01 de novembro de 2022, "em linha com a meta prevista no plano REPowerEU, sendo este valor de 83% no final de ano".
Já em Portugal, o 'stock' de gás armazenado em cavernas, situadas na região de Leiria, em 01 de novembro de 2022, foi de 109% da capacidade comercial firme disponível em base anual, mantendo-se até ao final de 2022, o que equivale 24 dias de consumo médio nacional.
A capacidade de armazenamento e de injeção foram utilizadas a mais de 90% da sua capacidade máxima em 61% e 42%, respetivamente, detalha.
No que se refere à interligação com Espanha, a ERSE avança que, em 2022, o volume exportado de gás a partir de Portugal totalizou 3,5 TWh, correspondendo a um aumento de 30% face ao período homólogo.
"O gás destinado à exportação entrou em Portugal através do Terminal de GNL de Sines, onde foi regaseificado e injetado na rede de transporte de gás", explica.
Por sua vez, o volume de importação de gás a partir do Ponto Virtual de Interligação (VIP Ibérico) totalizou de 4,7 TWh, representando um aumento na importação de gás de 14% relativamente ao período homólogo.
No ano passado, o saldo importador de gás no VIP Ibérico foi de 1.185 GWh (valor pouco superior ao equivalente à descarga de um navio metaneiro), menos 17% do que em 2021, sendo que os períodos do ano em que a importação de gás foi mais expressiva foram o terceiro e quarto trimestres.
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