Em entrevista à agência Lusa, o responsável da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) rejeita qualquer revisão do Acordo de Rendimentos e Competitividade, assinado em outubro do ano passado, recordando que existe uma cláusula que define uma avaliação da realidade económica para eventuais revisões, apontando que em "final de setembro, início de outubro" se faça esse balanço.
"Faremos essa avaliação e agiremos em conformidade. Hoje, neste tempo, decorridos apenas três meses, é extemporâneo", disse, considerando que a "inflação afeta todos por igual, por isso, o acordo tem de ter tempo de avaliação" olhando para os ganhos de produtividade e "a situação do rendimento da economia".
Para António Saraiva, no atual contexto de inflação é preciso procurar um equilíbrio: "Queremos a melhoria das condições das famílias, mas temos a sustentabilidade das empresas que tem de ser garantida".
Numa altura em que os bancos centrais alertam sobre o impacto dos salários e das margens das empresas nas pressões inflacionistas, Saraiva defende os empresários: "As empresas perderam margens com o aumento dos custos energéticos, com o aumento das matérias-primas, com a própria inflação que também sofrem".
"Os contratos que o empresário tem com a banca sofrem hoje aumentos de juros, como nós famílias estamos a sofrer. Não são só as famílias que sofrem aumentos de juros nos empréstimos da casa, as empresas também estão a sofrer esses acréscimos de custo. Mas desses, ou ninguém fala ou ninguém quer saber, mas nós que defendemos essas empresas, temos de saber", afirma.
O responsável sublinha ainda que em fevereiro o ganho médio das remunerações entregues declaradas à segurança social foi de 8%.
"O que é que isto quer dizer? Que a contratação coletiva, ao contrário do que alguns sindicatos querem fazer crer, está a melhorar. As palavras da ministra [do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social] foram que foi o segundo melhor ano de sempre de novos trabalhadores abrangidos pela contratação coletiva", enfatiza.
Para António Saraiva, estes dados revelam que se está a "caminhar no sentido da compensação do poder de compra dos trabalhadores".
Especialmente crítico da condução da Agenda do Trabalho Digno, considera que "o grupo parlamentar do PS foi muito mais criativo" do que "o próprio Governo tinha sido" e desafia o executivo: "Se a Agenda do Trabalho Digno é assim tão meritória, o Governo que me responda por que é que foi rejeitada por sindicatos e por empreendedores?".
"Só a senhora ministra, só o Governo é que veem bondade na Agenda do Trabalho Digno, os agentes económicos não veem", realça.
Para o responsável da CIP, que será sucedido por Armindo Monteiro na liderança da confederação, "a metodologia [do dossiê] foi catastrófica e diria até de pouco respeito do valor da Concertação Social".
"Nem a Concertação Social quer, nem nenhum parceiro social, substituir o parlamento. Sabemos perfeitamente o nosso papel, mas no mínimo se todos reconhecem como dizem reconhecer o papel da Concertação Social, então, respeitem a Concertação Social", salienta.
O 'patrão dos patrões' que dirigiu a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) durante os últimos 13 anos, assistindo à crise das dívidas soberanas, passou pela pandemia e agora à desencadeada pela guerra na Ucrânia considera que as empresas portuguesas estão mais bem preparadas para choques.
"As empresas estão hoje mais robustas em termos dos seus capitais, embora tenhamos tipologias um pouco enfraquecidas. É nesse sentido que temos de caminhar, até porque, como digo, a banca deixou de ser um parceiro de risco e, por isso, os capitais próprios das nossas empresas têm de ser diferentes e estamos a caminhar nesse sentido", assinalou.
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