"É fundamental o alinhamento gradual da condução da política monetária do BCV à atuação do BCE [Banco Central Europeu], no sentido de reduzir o diferencial de juros e, deste modo, mitigar os riscos associados a uma potencial saída de divisas, garantindo a sustentabilidade do regime cambial de 'peg' fixo da moeda nacional ao euro, sem descurar os desafios associados à estabilidade financeira", anunciou Óscar Santos.
O governador do BCV apresentou hoje, na sede do banco central, na Praia, as principais conclusões e decisões do Relatório de Política Monetária de abril, que além do aumento da TRM para 1%, envolve ainda o aumento da taxa de juro das Facilidades Permanentes de Absorção de Liquidez (FPA) em 50 pontos base, para 0,55%, o aumento da taxa de juro das Facilidades Permanentes de Cedência de Liquidez (FPC) em 75 pontos base, de 0,50% para 1,25%, o aumento da taxa de juro de Redesconto em 100 pontos base, de 1% para 2%, e a manutenção do coeficiente de Reservas Mínimas de Caixa (DMC) nos atuais 10%.
Segundo o BCV, o regime cambial de paridade ('peg') fixa com o euro adotado por Cabo Verde em 1998 visa, essencialmente, garantir a convertibilidade cambial do escudo cabo-verdiano, criar condições para a estabilidade de preços, protegendo o valor da moeda nacional e servir como âncora nominal credível da política monetária.
"O BCV continuará a acompanhar a evolução das variáveis e condições económicas, a evolução da conjuntura internacional e os riscos advenientes para a economia e o sistema financeiro nacional, mantendo-se alerta para intervir em qualquer momento e adotando as medidas que se mostrarem adequadas, visando a salvaguarda da estabilidade financeira e garantia da credibilidade do regime cambial de 'peg' unilateral face ao euro. O quadro operacional de política monetária do BCV está equipado com as ferramentas de política essenciais para fornecer todo o suporte de liquidez ao sistema financeiro nacional, em caso de necessidade", disse ainda o governador.
Óscar Santos anunciou igualmente o término do programa de financiamento de longo prazo, denominada Operação Monetária de Financiamento, a partir de 30 de junho, com a redução do montante de colocação mensal para as operações a realizar-se no mês de junho, de 1.000 milhões para 500 milhões de escudos (nove para 4,5 milhões de euros), a manutenção da maturidade de três anos para os leilões, de um e dois anos para as operações bilaterais e a manutenção da taxa de juro em 0,75%.
Na apresentação deste relatório, o governador reconheceu que a evolução da economia internacional em 2022 "ficou marcada pela desaceleração da atividade económica global e dos principais parceiros económicos de Cabo Verde", refletindo os "efeitos prolongados da guerra na Ucrânia e as elevadas taxas de inflação que impactaram negativamente os rendimentos reais das famílias e, por outro lado, as medidas de aperto das condições de financiamento levadas a cabo pelas autoridades monetárias como forma de combater a inflação e as expectativas inflacionistas".
"Apesar deste enquadramento externo pouco favorável, o desempenho da economia nacional ficou marcado por um crescimento histórico, superando os níveis pré-pandémicos. De acordo com as estimativas trimestrais das contas nacionais do Instituto Nacional de Estatística (INE), o Produto Interno Bruto em volume cresceu, em 2022, 17,7%, o que compara com a expansão registada de 6,8% em 2021. Esta evolução resultou do crescimento excecional do valor acrescentado bruto dos setores ligados ao turismo", acrescentou.
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