O posto de gasolina de Oquê-Del-Rei, a cerca de três quilómetros do centro da capital, São Tomé, é um dos poucos pontos de venda com gasolina disponível, mas tem registado longas filas e clima de tensão entre motoqueiros, taxistas e automobilistas.
Pequenos revendedores informais estão a vender a gasolina entre 80 dobras (3,25 euros) e 120 dobras (4,87 euros), muito acima do preço real de 37 dobras (1.50 euros).
"Há pessoas que estão a exagerar nos preços, porque se na bomba se vende combustível a 37 dobras, não há razão de eles venderem a 120 dobras. Os taxistas estão a comprar a esses valores e também estão a aumentar o preço do táxi [..] Quem vai sofrer é o povo, não são as pessoas que estão a vender, nem a revender", comentou um taxista.
A Associação dos Distribuidores e Revendedores de Combustíveis (Adrecol) diz-se alvo de ameaças e tentativas de vandalismo por parte da população, sob a acusação de açambarcamento da gasolina.
"Neste preciso momento não temos gasolina nas bombas e somos confrontados pelos clientes com ameaças de vandalismo e outras ameaças porque nós temos combustível e estamos a esconder, porque o combustível vai aumentar de preço para depois revendermos a preço mais caro", disse o membro da Adrecol, Hugo Medeiros.
Medeiros referiu que as únicas bombas que têm combustível são as que pertencem à Empresa Nacional de Combustíveis e Óleo (Enco), gerida pela Sonangol de Angola, que é a principal responsável pela importação de combustível para São Tomé e Príncipe.
"Nós estamos já desesperados com a situação [...] até agora nós não tivemos nenhuma informação da Enco", referiu Hugo Medeiros, adiantando que muitos associados já pagaram à Enco pela gasolina, mas aguardam pelo produto.
Guilherme Octaviano, também associado da Adrecol, criticou o que considerou de "tratamento desigual" por parte da Enco.
"Temos tido um tratamento desigual, desequilibrado e é neste aspeto que nós já estamos cansados e gostaríamos que o tratamento fosse equilibrado [...] temos clientes e gostaríamos de atendê-los de uma forma regular", disse Guilherme Octaviano.
São Tomé e Príncipe deve mais de 270 milhões de dólares (250 milhões de euros) a Angola pelo fornecimento de combustível, o que tem levado à constantes reduções da quantidade de combustível fornecido ao arquipélago.
A falta de combustível tem agudizado os cortes constantes de eletricidade e causado o aumento de preços de transportes.
"Com essa falha de combustível, de gasolina principalmente que não há agora, fez-me enfraquecer financeiramente [...] nós dependemos da área piscatória e maior parte dos senhores que fazem pesca precisam de gasolina [para os motores], e como não há gasolina, não há como ir para a pesca", relatou um taxista.
"Praticamente eu fiz apenas duas viagens, mas quando há gasolina à vontade eu fazia três até quatro viagens, porque as canoas vão para pesca trazem peixe e há movimentação das palaiês [vendedoras de peixes]", acrescentou.
Na quarta-feira, o Governo são-tomense informou que "os derivados petrolíferos, nomeadamente o petróleo, a gasolina e o gasóleo têm a previsão de chegada ao país para sexta-feira", justificando a escassez com "mau tempo no porto de Lomé, Togo" que "inviabilizou o carregamento e o transporte dos referidos produtos".
"Assim, vem o Governo advertir que deve ser evitada, a todo o custo, a prática de açambarcamento das quantidades existentes e eventuais especulação de preços", lê-se no comunicado publicado no Facebook, assinado pelo ministro da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Gareth Guadalupe.
"A nossa maior preocupação é quando o combustível vier, se vai sofrer mais aumento. Se vai sofrer mais aumento, nós estamos com mãos atadas, porque se combustível vai aumentar, produtos de primeira necessidade já estão caro, quer dizer que tudo vai ficar mais caro. O que será de nós?, questionou um motoqueiro.
"Em São Tomé nós não estamos habituados com esse aperto desse jeito. É bom que o Governo possa minimizar as coisas, porque nós não estamos habituados com coisas com preços alto desse jeito e estamos um pouco tristes com essa situação", acrescentou.
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