"Um conjunto de medidas em curso e em breve vão reformar o regime fiscal, o setor financeiro e os requisitos regulatórios para as empresas estrangeiras e locais em Moçambique, com o objetivo de encorajar o regresso dos operadores de gás e outros investimentos em grande escala no país", escrevem os analistas da Eurasia, explicando a melhoria que fizeram à perspetiva de evolução de Moçambique.
"Antecipando o regresso da produção de gás, o governo também está a investir nas infraestrutura públicas na região de Cabo Delgado [norte], o que vai aumentar a atividade económica e pode limitar a atividade dos insurgentes, a longo prazo", acrescenta-se na nota enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso.
Na atualização da perspetiva de evolução de longo prazo para Neutra, apesar da perspetiva Negativa a curto prazo, a Eurasia diz que "os esforços do governo para fomentar o regresso dos operadores de petróleo e gás vão impulsionar a atividade económica e ajudar a manter a perspetiva de segurança na região".
A perspetiva de evolução a curto prazo, no entanto, permanece negativo porque, argumenta a Eurasia, "apesar de haver menos insurgentes do que no período mais conturbado da insurgência, em 2021, muitos estão agora escondidos e lançam ataques provenientes das regiões vizinhas de Niassa e Nampula, o que significa que o risco de ataques violentos aos trabalhadores nas eleições [presidenciais de outubro de 2024] e nas infraestruturas vai aumentar, principalmente com o aproximar das eleições municipais".
Em Moçambique, dos três projetos de exploração de gás na bacia do Rovuma com os quais se espera impulsionar a economia do país, apenas o mais pequeno está ativo, numa plataforma flutuante.
Em relação aos dois maiores, com um volume somado de investimento semelhante ao da Tanzânia, o projeto liderado pela TotalEnergies parou a meio da construção, em 2021, devido aos ataques armados em Cabo Delgado, enquanto o liderado pela Exxon está a ser redesenhado, ainda sem decisão final de investimento.
A região de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.
O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
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