"Se pensávamos que o mundo parecia estranho em meados de maio de 2022, quando emergíamos lentamente da pandemia e quando a guerra na Ucrânia tinha abalado a segurança alimentar e energética, hoje encontramo-nos numa situação ainda mais difícil", disse Ngozi Okonjo-Iweala, durante o seu discurso na sessão de abertura da cimeira Organização Mundial do Comércio, que decorre até 29 de fevereiro, nos Emirados Árabes Unidos.
Nesta reunião, a diretora deu ainda as boas-vindas a Timor-Leste e às Comores como novos membros da organização, os primeiros em oito anos. Com estas novas adições, a organização totaliza 166 Estados-membros.
"Olhando à nossa volta, a incerteza e a instabilidade estão em toda a parte. As tensões políticas pioraram. Os conflitos espalharam-se, como vemos aqui no Médio Oriente e, longe das manchetes, em partes de África e do mundo árabe. Não devemos esquecer o conflito em Sudão, que deslocou cerca de oito milhões de pessoas internamente e através das fronteiras", afirmou a responsável da OMC.
A responsável afirmou que o aumento dos preços dos alimentos, da energia, dos fertilizantes e de outros produtos essenciais continua a "sobrecarregar o poder de compra da população", bem como as "perturbações no transporte marítimo em vias navegáveis vitais, como o Mar Vermelho e o Canal do Panamá.
Esta "nova fonte de atrasos e pressões inflacionárias" oferece um "lembrete em tempo real dos riscos que os problemas de segurança e a crise climática representam para o comércio e a produção globais", observou.
Okonjo-Iweala sublinhou ainda que a OMC precisa de permanecer "forte", acrescentando que a organização deve "continuar a reformar e revitalizar a OMC para que possa produzir resultados para o comércio nos próximos anos, aproveitando todo o potencial dos serviços e do comércio digital", acelerando o comércio para a transição ecológica e promovendo a inclusão socioeconómica.
A diretora-geral da OMC também quis destacar o clima positivo que vê na capital dos Emirados Árabes Unidos (EAU) após as sessões anteriores em Genebra, sede da OMC.
"O sucesso está a mudar o tom da OMC, tanto dentro como fora desta. Sim, teremos sempre detratores, mas não há dúvida de que os membros demonstraram que podemos alcançar o que nos propusemos quando subimos as mangas ou reunimos a vontade política necessária (...). Os ministros terão de 'arregaçar as mangas' mais uma vez para concluir os trabalhos pendentes em Genebra", afirmou.
Durante o seu discurso, insistiu que esta melhoria do ambiente deve ser convertida em "resultados concretos" para demonstrar ao mundo que a OMC "não só apoia mais de três quartos do comércio mundial de mercadorias, mas é também um fórum no qual os membros trazem novos benefícios para as pessoas através do comércio".
Por isso, Okonjo-Iweala afirmou que "sem cooperação" no comércio, avançaremos para uma economia mundial "cada vez mais fragmentada", tornando estas prioridades "mais difíceis e mais dispendiosas e, em alguns casos, impossíveis de alcançar".
A cimeira comercial surge num clima de pessimismo, uma vez que muitos acreditam que a situação atual, com grandes conflitos bélicos, tensões crescentes entre os Estados Unidos, a Rússia e a China, ou incertezas económicas no Ocidente não criam o melhor ambiente para se chegar a acordos.
O principal ponto da agenda é continuar a negociar o desbloqueio do mecanismo de resolução de litígios da própria OMC, paralisado desde 2019 devido à recusa dos Estados Unidos em nomear novos juízes, e aos pedidos deste e de outros países para a realização de uma grande reforma estrutural do sistema de contenciosos.
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