"Apesar das previsões de que a pobreza diminua entre 2024 e 2026, o crescimento não deverá ser particularmente favorável aos mais pobres", lê-se na Atualização Económica 2024, consultada hoje pela Lusa.
Segundo o Banco Mundial, prevê-se que a pobreza desça de 15,1% em 2023 para 14,9% da população em 2024 e 14,2% em 2025.
No entanto, "o efeito do crescimento económico na redução da pobreza deverá continuar a ser atenuado pela inflação, em especial nos produtos alimentares", prevendo-se que se mantenha alta, a 4,3% e 3,4% em 2024 e 2025, respetivamente".
Ou seja, a inflação nos alimentos vai estar acima da inflação global esperada que é de 2,7% e 2,1% nos mesmos anos.
Analisando o impacto, o banco conclui que o crescimento económico per capita em Cabo Verde vai estagnar, podendo ser mais elevado apenas "entre famílias mais ricas".
Além disso, no caso das famílias abaixo do limiar da pobreza, a taxa de crescimento de 2024 deverá ser das mais baixas dos últimos anos -- e das previsões até 2026.
O nível de pobreza é calculado de acordo com o valor internacional de 3,65 dólares por pessoa, por dia, em paridade com o poder de compra de 2017, utilizando o Inquérito às Despesas e Receitas Familiares (IDRF).
O IDRF já foi feito por quatro vezes em Cabo Verde: 1988/89, 2001/02, 2015 e 2023.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) prevê publicar os resultados de 2023 até final do mês.
O boletim de Atualização Económica 2024 do Banco Mundial sobre Cabo Verde defende uma aposta na economia ligada ao mar (destacando a aquacultura) para combater a dependência do turismo.
No setor do turismo, em particular, defende-se uma "maior sustentabilidade, inclusão e diversificação", com "alojamentos complementares" para permitir a diversificação turística em mais nichos e ilhas, regular o acesso sustentável a áreas ecologicamente sensíveis.
O documento mantém a previsão de crescimento médio de 4,7% para Cabo Verde entre 2024 e 2026 e aponta para uma taxa de inflação de 2% até final de 2025 (foi de 1,3% em 2023).
O rácio dívida pública/PIB deverá melhorar, de 113,8% em 2023 para 102,1% em 2026, mas continua a ser crucial a gestão dos riscos fiscais relacionados com empréstimos às empresas públicas e garantias.
Problemas domésticos ao nível dos transportes, redes de logística e energia têm impedido que o efeito de crescimento do turismo se estenda a outros setores de economia, lê-se no documento.
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