"São cada vez mais as pessoas que fazem as suas compras de supermercado na internet, mas não se pode usar dinheiro [efetivo] para as pagar. Na maior parte das vezes, a única opção é o PayPal ou um cartão internacional como o Visa ou o Mastercard e cada vez mais pessoas utilizam carteiras digitais como o PayPal ou o Apple Pay nos seus telemóveis. [...] Estes desenvolvimentos tornam-nos dependentes de empresas não europeias, o que é arriscado", declarou o membro da Comissão Executiva do Banco Central Europeu Piero Cipollone, em Bruxelas.
Falando perante os eurodeputados da comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, num debate sobre os desenvolvimentos do projeto do euro digital, o responsável destacou a "dependência da Europa de intervenientes estrangeiros para os pagamentos de retalho", para defender que se passe então da "dependência à autonomia" através da implementação desta forma eletrónica de moeda.
Prevê-se que, até 2027, estas plataformas tecnológicas de pagamentos a retalho -- predominantemente dos Estados Unidos e da China -- sejam responsáveis por 40% do comércio eletrónico e 27% dos pagamentos em loja na Europa.
"Avancemos para o ano 2030: imaginem que estamos no Campeonato do Mundo de Futebol em Espanha e que queremos comprar uma bebida, mas só se pode pagar com a Alipay. Este cenário não é tão rebuscado como pode parecer porque, por exemplo este verão, a compra de bilhetes para o Campeonato Europeu de Futebol na Alemanha só foi possível com meios de pagamento chineses ou americanos", exemplificou Piero Cipollone.
Vincando que, quando o euro digital estiver em vigor, "o Eurosistema continuará, naturalmente, a assegurar que as pessoas na Europa possam pagar com numerário", o membro do BCE destacou os "benefícios tangíveis para todas as partes interessadas, consumidores, comerciantes e bancos".
De momento, o BCE está então a preparar a criação deste euro digital.
Piero Cipollone especificou, perante os eurodeputados, que após o arranque do projeto-piloto em 2021, banco central está agora a desenvolver metodologia e limitações, a criar um manual e a finalizar os aspetos técnicos, isto a cerca de um ano para o prazo final.
"No final de 2025, o Conselho do BCE decidirá se passa à fase seguinte do projeto", concluiu, pedindo "rapidez e cooperação" ao Parlamento, por estar encarregue do trabalho legislativo juntamente com o Conselho.
Em causa está um pacote legislativo divulgado pela Comissão Europeia em junho de 2023 para se avançar na União Europeia com esta nova disponibilidade ao mesmo tempo que pretende salvaguardar a utilização do euro em numerário.
No âmbito deste pacote, a instituição propôs então um euro digital para, à semelhança do numerário, estar disponível tal como cartões ou aplicações, funcionando como uma carteira digital através da qual os cidadãos e as empresas poderiam pagar em qualquer altura e em qualquer lugar da zona euro.
Previsto estaria que os bancos e outros prestadores de serviços de pagamento em toda a UE distribuíssem o euro digital, sem qualquer custo na versão básica, e que os comerciantes de toda a área do euro aceitassem pagamentos com o euro digital, exceto os de muito pequena dimensão, dado o custo das infraestruturas.
À semelhança do numerário, o euro digital seria responsabilidade do BCE, ao qual caberá decidir se e quando emitir esta versão virtual da moeda única.
Uma moeda digital é um ativo semelhante ao dinheiro que é armazenado ou trocado através de sistemas 'online', que seria gerido pelo banco central
Leia Também: Lagarde pede "flexibilidade" na política monetária em altura de incerteza