Numa entrevista à agência Lusa, Luís Domingues, representante nacional do Unifor para a região de London, denuncia os efeitos imediatos das tarifas sobre fábricas e empregos com ligação direta à comunidade luso-canadiana.
"Se estas tarifas avançarem, a Sodecia, com sede no Porto, pode perder contratos e ver postos de trabalho desaparecer. Estamos a falar de uma empresa com raízes em Portugal que hoje é parte integrante da economia local aqui no Ontário", afirmou.
Segundo o sindicalista, a unidade da Sodecia em London emprega dezenas de trabalhadores luso-canadianos e fornece componentes essenciais para fabricantes norte-americanos, incluindo a Tesla.
Fundado em 1980, em Portugal, o grupo Sodecia é fornecedor global de componentes para chassis e sistemas de transmissão automóvel, bem como de soluções de montagem automatizadas.
Presente em London desde 1998, opera duas unidades de estampagem e um Centro Global de Tecnologia e Automação (GTAC), inaugurado em 2016. Em 2017, abriu uma unidade de estampagem a quente com 18.500 metros quadrados, dedicada à produção de veículos mais seguros e eficientes.
O dirigente sindical português Luís Domingues alertou ainda para um "clima de confusão" e "incerteza económica" no setor automóvel canadiano desde a entrada em vigor, em 03 de abril, das tarifas de 25% impostas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, sobre veículos fabricados fora dos EUA.
"Um dia temos tarifas, no outro não. É um caos. As fábricas estão paradas, os trabalhadores em casa, e ninguém sabe se vai haver trabalho amanhã", lamentou.
As consequências já se fazem sentir. A Stellantis suspendeu temporariamente 900 trabalhadores em cinco unidades nos Estados Unidos e interrompeu a produção em fábricas no México e em Windsor, Ontário.
Poucos dias depois, a General Motors anunciou a paralisação temporária da produção da carrinha elétrica BrightDrop na fábrica CAMI, em Ingersoll, também no Ontário.
Embora as empresas apontem o excesso de inventário como motivo para estas decisões, o sindicato atribui os efeitos diretos à incerteza causada pelas tarifas e à política hostil de Trump em relação aos veículos elétricos.
"A incerteza travou novos investimentos. Havia planos para produzir baterias e expandir modelos na fábrica de Ingersoll, mas tudo ficou em pausa por causa das tarifas", acrescentou Domingues.
Em retaliação, o governo canadiano impôs tarifas equivalentes de 25% sobre veículos montados nos EUA, permitindo, ao abrigo do Acordo Canadá-EUA-México (CUSMA), deduções com base em conteúdo local.
"Tarifas para cá, tarifas para lá... no fim, quem perde são os trabalhadores. Já se perderam seis mil postos de trabalho em poucos dias e, se isto continuar, podemos chegar aos 20 mil. São famílias inteiras e comunidades que dependem desta indústria", sublinhou.
De acordo com um estudo citado por Luís Domingues, os custos para os fabricantes poderão ultrapassar os 100 mil milhões de dólares (93 mil milhões de euros), caso as tarifas se mantenham.
O responsável teme ainda que os Estados Unidos deixem de investir no Canadá, obrigando o país a procurar novos parceiros internacionais: "Compramos dois milhões de carros por ano no Canadá, mas só fabricamos 700 mil. Se os EUA deixarem de investir, vamos ter de atrair empresas europeias e asiáticas para produzirem cá. Não há outra forma de sobreviver".
Com eleições federais marcadas para 28 de abril, Domingues espera que um novo governo possa renegociar os termos comerciais com Washington e restaurar a estabilidade no setor.
"A indústria automóvel precisa de previsibilidade, os trabalhadores precisam de segurança e as famílias precisam de saber que vão continuar a ter pão na mesa", concluiu.
A Unifor é o maior sindicato do setor privado no Canadá, representando cerca de 315 mil trabalhadores em todo o país, incluindo aproximadamente 30 mil na indústria automóvel.
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