Num comunicado assinado por 13 estruturas sindicais, os representantes dos trabalhadores dão conta de que houve uma reunião no sábado à tarde entre a CP e os sindicatos, na qual "o presidente da administração da CP informou todas as organizações sindicais de que o governo não autorizou a administração a aplicar a última proposta" apresentada.
Segundo os sindicatos, trata-se de um "processo inédito", já que a administração tinha apresentado uma contraproposta na quinta-feira para, dois dias depois, "dar o dito por não dito" e retirar essa proposta da mesa das negociações.
As estruturas sindicais afirmam que estavam "dispostas a aceitar" as condições da proposta apresentada pela empresa na quinta-feira, e que poderia ser "um passo importante para a solução de um problema estrutural na CP", mas que agora a situação é de não haver qualquer acordo.
"O presidente da administração informou [os sindicatos, na reunião de sábado] que o Governo recusou a proposta com o argumento de se encontrarem em gestão e não poderem autorizar as medidas previstas no acordo", lê-se no comunicado conjunto.
A Lusa contactou a CP e o Ministério das Infraestruturas e Habitação, mas só obteve uma curta resposta por parte do ministério de Miguel Pinto Luz, que confirmou que a proposta da empresa "não é enquadrável no âmbito das competências de um Governo em gestão".
Diz ainda que a proposta em causa mereceu "a melhor atenção" e felicitam "o espírito colaborativo em que decorreram as negociações e que permitiram o encontro de soluções comummente aceites".
Fica por explicar que soluções são essas, tendo em conta que a proposta que os sindicatos se preparavam para aceitar foi retirada pela empresa.
Segundo os sindicatos, a proposta da CP passava por um novo aumento a partir do mês de janeiro de 2025, a somar aos 34 euros aplicados por ato de gestão, de modo que seja reposta a diferença com o SMN -- Salário Mínimo Nacional de 2018, um aumento variável em função de cada índice.
A empresa iria também aumentar em 4% todos os trabalhadores em dezembro de 2025, além de reduzir os tempos de permanência no primeiro índice para 1 ano, no segundo para 2 anos, nos seguintes para 3 e no último para 4, a partir de janeiro deste ano.
"Apresentaram-nos uma proposta de acordo para a qual não tinham aval do governo, pelo que poderemos questionar: que credibilidade é que terá qualquer negociação que façamos futuramente com esta administração?", questionam as estruturas sindicais.
Por outro lado, criticam que "o mesmo governo que diz não poder decidir porque está em gestão, [seja] o mesmo que, muito recentemente, veio anunciar o novo plano ferroviário".
"Ou seja, está em gestão para umas coisas, mas noutras podem decidir sem problemas. Não entendemos esta decisão", afirmam.
De acordo com os sindicatos, "a CP não ia necessitar de um único cêntimo para cumprir com a proposta, [uma vez que] a verba a utilizar seria do próprio orçamento, com recurso à utilização de rubricas que tinham capitação em excesso ou desnecessária para este ano".
"O governo que anuncia que a CP tem lucro nos últimos anos, devido aos seus trabalhadores, é o mesmo que impede que os trabalhadores vejam reconhecido o seu esforço e dedicação", criticam.
Dizem ainda que se mantém a greve de dois dias, em 07 e 08 de maio.
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