"É uma profissão em que colecionamos muitos mais 'não' do que 'sim'"

Bárbara França esteve a viver uma temporada em Portugal para gravar a série 'Da Mood', que vai estrear em breve na RTP. Em entrevista ao Fama ao Minuto, além de falar deste projeto especial, comentou a instabilidade da profissão, partilhou as suas ambições, referiu o plano B e destacou a importância da terapia.

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Marina Gonçalves
30/11/2021 09:30 ‧ 30/11/2021 por Marina Gonçalves

Fama

Bárbara França

Esta foi a primeira vez que Bárbara França saiu do seu país para trabalhar e viver sozinha. Apesar de ter sido muito bem recebida, e mesmo só tendo estado afastada durantes uns meses, as saudades da família e de casa foram a parte mais difícil desta aventura profissional e pessoal, como desabafou em conversa com o Fama ao Minuto.

No entanto, o lado emocional não a impediu de ficar maravilhada com vários cantinhos portugueses, tendo ficado "apaixonada" pela capital e "encantada" com a cidade do Porto. "Parece um cenário de um filme. Sem palavras", acrescentou, sobre a Invicta.

Durante a entrevista, a atriz brasileira refletiu sobre os 15 anos de carreira e abordou a necessidade de os profissionais das artes terem um plano B por causa da instabilidade da profissão. Além disso, não deixou de destacar a importância da terapia na sua vida para conseguir lidar da melhor maneira com os desafios, uma vez que, diz, é uma pessoa "muito ansiosa".

Esteve a gravar 'Da Mood', em Portugal… O que mais a deixou rendida logo à chegada?

Encantei-me por Lisboa, não consigo dizer uma coisa. Cada cantinho que vejo em Portugal (fui a Sintra, Cascais, Porto)… Estou apaixonada! Cada vez que olhava para qualquer lugar achava tudo lindo. A comida é maravilhosa… E não conheci praticamente nada porque estava a gravar muito, num ritmo muito intenso. Estou a ir para o Brasil e a morrer de saudades daqui, e a querer voltar porque há muita coisa que não conheci.

Como descreve o seu papel na série?

Vou tentar não dar muito spoiler se não puxam-me as orelhas (risos). A Ana (nome da minha personagem) é uma brasileira formada em História da Arte e veio para Portugal de início para passar férias. Ela apaixona-se por Portugal e acabou por ficar. Ela já mora em Lisboa há cinco anos e veio sozinha. Acho isso muito corajoso porque não sei se teria a mesma coragem de abandonar tudo e vir para um país desconhecido, sem conhecer ninguém…

Ela é o braço direito do Mário (que é a personagem do Rui Melo), ele é um agente. Ela acaba também por se envolver com um protagonista da série, que é o Rui (a personagem do Miguel Raposo). Acaba por ser namorada dele e por acompanhar desde o início essa saga dele e do Mário de formar uma boys band. Eles vão fazendo castings, escolhendo os integrantes. Ela acaba por se envolver com ele, mas ao mesmo tempo tem também uma relação profissional com ele, e esse acho que é o grande dilema dos dois. Várias surpresas vão acontecer ao longo da série, mas é muito maravilhosa, divertida.

Foi uma loucura porque a minha vinda para Portugal foi muito de repente. Cheguei e disse: parece um sonho

E sendo uma série sobre a formação de uma boys band, houve alguma banda que tenha marcado a sua infância/adolescência?

Os Backstreet Boys foram a minha infância, a minha e de muita gente. (risos) Nos anos 90 tinha muito isso de boys band. No Brasil não tivemos muitas boys band, que me lembre. Teve uma que era o KLB (que eram três irmãos que fizeram muito sucesso) e uma girls band com cinco mulheres que se chamava Rouge. Também tinha a Sandy & Junior que não era uma boys band, mas era uma dupla que marcou a minha infância e adolescência. Mas a que marcou a minha vida, que me lembro de ir para as festas de criança e dançava, sabia todas as coreografias, era apaixonada por eles, eram os Backstreet Boys. 

Foi muito interessante porque acabei por entrar nesse universo aqui em Portugal também. Assisti ao documentário dos Excesso, tive oportunidade de conhecer os Anjos - eles fizeram uma participação muito engraçada, muito divertida, na série ‘Da Mood’. [Sei que] também tiveram aqui os D’ZRT… 

Quando começou este projeto – ‘Da Mood’ – não conhecia ninguém… Como foram os primeiros dias? 

Foi uma loucura porque a minha vinda para Portugal foi muito de repente. Recebi o texto e estava a terminar de fazer um filme no Rio de Janeiro. Terminei num dia e no dia a seguir já estava a fazer o teste para esta série, e na mesma semana já estava a vir para Portugal. Foi muito rápido. Do nada estava a vir para Portugal e era a minha primeira vez aqui, neste país, não conhecia absolutamente ninguém a não ser o Thiago Rodrigues que é meu amigo e com quem estava a fazer uma novela no Brasil. Cheguei e disse: parece um sonho. Não estava a acreditar que isto estava mesmo a acontecer. A ficha ainda não me tinha caído.

Depois comecei a ter os encontros, os ensaios com o Sérgio e o Marco Medeiros que é o nosso diretor, faz a direção de atores na série… O elenco todo foi muito legal, muito recetivo. O Miguel Raposo, que é com quem mais contraceno, é um querido. Não consigo descrever o quanto ele foi querido comigo, como ele me acolheu e os outros atores, a Carol [Carolina Carvalho], o Tiago [Teotónio Pereira], o José Mata, o Diogo [Martins]... E isso fez toda a diferença.

Como geriu as saudades da família?

Não vou dizer que foi fácil. Mesmo ter-me apaixonado de cara por Portugal e sendo muito bem recebida, não foi fácil. Qualquer mudança, na minha perspetiva pessoal, é algo que me assusta muito e, de facto, senti muita saudade da minha família. Convivia muito com eles. Muita saudade da minha mãe, do meu pai, do meu namorado, das minhas amigas. Esse foi o lado mais difícil para me adaptar aqui. Porque adaptei-me muito rápido ao lugar e às pessoas. Mas gerir essa saudade, essa falta, e estar sozinha pela primeira vez… Nunca tinha morado fora, nunca tinha morado sozinha, estava sempre com a minha família, com os meus amigos. Foi um desafio pessoal muito grande. O lado emocional foi o mais difícil. Saber lidar com a falta deles foi a etapa mais difícil e o maior crescimento pessoal que tive.

Vai haver a segunda temporada desta série, por isso vou voltar para gravar, já é algo que está certo. Quem sabe não fique cá mais tempo?!

Entretanto, a mãe e o namorado também viajaram para Portugal para passarem alguns dias… 

Foi ótimo. Primeiro veio a minha mãe e foi maravilhoso. Quando ela chegou, estava morta de saudades e foi uma delícia. Ainda não tinha começado a gravar. Ela já tinha vindo a Lisboa mas há 20 anos, acho que era uma Lisboa completamente diferente. Passeamos bastante, ela amou Lisboa, adaptou-se [bem]. Nem queria voltar.

Depois o meu namorado, Maurício Pitanga, veio para cá e foi embora depois de mim. Por ele nem voltava mais para o Brasil. Ele está apaixonado por Portugal, não queria ir embora, mesmo. Foi muito bom ter os dois comigo porque deu-me a sensação de lar, de aconchego. Ele [o namorado] nunca tinha viajado para cá apesar de ter uma parte da família italiana. É cidadão Europeu mas nunca tinha vindo para a Europa, para Portugal. Foi uma experiência muito nova para ele também.

Na reta final das gravações chorei todos os dias. As pessoas brincavam comigo, saia com a cara inchada. Ainda não tinha ido embora e já estava com o coração apertado de saudade.

Li que a sua família tem origens portuguesas. Pode contar-nos mais detalhes sobre esse lado da família? 

Tenho familiares aqui em Portugal por parte do meu pai, em Braga. O meu bisavô era português. Atualmente tenho aqui primos, tios...

E ouvia histórias sobre Portugal?

Sim. O meu pai sempre me disse que grande parte da família [era de Portugal] e que seria ótimo se pudéssemos vir conhecê-los. Ele já veio para cá, já conhece [Braga]. Mas também tenho primos no Porto que conheci.

Imagina-se a mudar-se para Portugal?

É algo que está a pairar na minha cabeça neste exato momento. E é muito engraçado porque conheci muitas pessoas, não só do Brasil, que vieram para Portugal passar alguns dias e acabaram por ficar aqui. Apaixonaram-se, encantaram-se, como é o caso da minha personagem, a Ana. É uma coisa que é impossível não passar pela minha cabeça, mas é claro que preciso de pensar muito. Graças a Deus tenho uma carreira em que tenho trabalhado muito no Brasil. A minha família, a minha estrutura é toda de lá, mas quem sabe se não recebo uma proposta, uma oportunidade para um próximo trabalho. Na verdade vai haver a segunda temporada desta série, por isso vou voltar para gravar, já é algo que está certo. Quem sabe não fique cá mais tempo?!

Lidar com essa instabilidade que é uma coisa constante na profissão, isso para mim é a parte mais difícil porque sou extremamente ansiosa

O que mais destaca (positivamente e negativamente) destes 15 anos de carreira? 

A negativa, com certeza, a instabilidade da profissão. Começamos um trabalho já a pensar no final desse trabalho, se vamos ter algum outro. É uma profissão muito inconstante, às vezes temos trabalho e outras vezes não. Às vezes coincide acabar um trabalho e começar logo outro, outras vezes não, ficamos alguns meses sem entrar em algum projeto. Lidar com essa instabilidade que é uma coisa constante na profissão, isso para mim é a parte mais difícil porque sou extremamente ansiosa. Não consigo domar essa ansiedade sem saber o futuro. Isso para mim é muito difícil e é por isso que sou muito a favor de um plano B, e penso cada vez mais nisso, de ter algum projeto para não ter que depender exclusivamente [da representação].

Sou formada em jornalismo, apesar de nunca ter trabalhado, mas tenho o meu diploma. E é algo que penso em começar a galgar.

Então o jornalismo é o seu plano B?

Ainda não trabalhei em nada na área do jornalismo, mas é algo que tenho muita vontade. E agora de volta ao Brasil, penso em estender. Tantos atores acabam por ingressar no ramo do jornalismo, acabam por apresentar programas…

Se não tivesse contrato, a pandemia teria sido o período mais difícil

E a parte positiva destes 15 anos de carreira? 

A possibilidade de viver novas experiências. Cada personagem traz um conjunto de novidades e acho isso incrível. Poder viver várias vidas numa vida só. Coisas que eu Bárbara jamais conheceria.

Pegando pela instabilidade da profissão que falou há pouco, já teve algum período mais duro durante a carreira em que tenha ficado afetada por esse “lado negativo”?

Depois de ter começado a fazer novela, a primeira foi ‘Malhação’, consegui emendar um trabalho com outro. Nunca fiquei um tempo muito longo sem trabalhar. Mas na pandemia, por exemplo, foi um período muito difícil para todos. Estava a gravar uma novela e tivemos que suspender. Se não tivesse contrato, a pandemia teria sido o período mais difícil. Interrompemos as gravações, mas continuei com contrato. Mas conheço muitos amigos que, infelizmente, ficaram desempregados. Foi um período de muita instabilidade. Acho que se não fosse este meu trabalho durante a pandemia, teria enlouquecido porque sou extremamente ansiosa. E quando não estou a trabalhar, isso afeta-me muito.

Mas antes de conseguir o meu primeiro contrato em ‘Malhação’, fiquei durante muitos anos a tentar nesta profissão, a fazer testes e mais testes… O que mais recebia era “não”. É uma profissão em que colecionamos muitos mais “não” do que “sim”. Investi muito até conseguir o primeiro trabalho. Foram dez anos em que muitas vezes pensei em desistir, dizia que estava a investir numa profissão que não era para mim. Estava há dez anos a tentar, fazia um trabalho aqui, uma participação numa novela ali, mas não conseguia um projeto, um papel. Todas as vezes que pensava em desistir, surgia uma nova oportunidade, um novo teste, um novo trabalhinho, uma nova esperança. E essa esperança renovava-me, ganhava fôlego para continuar. Nesse tempo foi importante o apoio da minha família porque é muito difícil. Só consegue quem realmente persiste.

Desde criança que já fazia terapia, é algo que faço até hoje. Para mim funciona como uma ferramenta que não me consigo ver sem ela

Sendo filha de uma psicóloga acaba por ter outras ferramentas para conseguir lidar melhor com essa parte negativa da profissão?

Com certeza! Isso ajudou-me muito! Desde criança que já fazia terapia, é algo que faço até hoje. Para mim funciona como uma ferramenta que não me consigo ver sem ela. É uma ferramenta de auto-conhecimento. E por mais complicado que seja o período pelo qual esteja a passar, fazer terapia consigo lidar melhor com as minhas emoções, os meus problemas.

A minha mãe sendo psicóloga, sempre tivemos uma relação de muita comunicação, sempre tivemos um grande elo de comunicação. Ela ser psicóloga ajudou-me muito, apoiou-me sempre na minha profissão. Venho de uma família de médicos - o meu pai é engenheiro, a minha mãe é psicóloga, mas tenho muitos parentes que são médicos -, por isso fui a primeira artista da família. Portanto, foi um choque. Para eles acredito que foi uma surpresa, não foi fácil porque é uma profissão difícil - no Brasil é mais ainda ganhar a vida como ator, artista.

De todos os projetos que fez até aqui, qual o que mais destaca e porquê?

Todos são muito especiais à sua maneira. Conheci sempre pessoas muito especiais, mas acho que o projeto mais especial foi a ‘Malhação’ porque foi o pontapé de tudo. Foi também uma grande escola. Um projeto muito difícil porque gravávamos muito, também tinha muitos medos, era a minha primeira novela, tinha uma personagem que foi um grande desafio, era uma vilã. Mas foi muito simbólico. Foi a porta de entrada para todos os outros projetos que vieram depois, até hoje na rua falam-me de ‘Malhação’, inclusive em Portugal. 

Quero continuar a fazer o que amo, viver da arte que é o que alimenta a minha alma. E ter o privilégio de trabalhar até ficar velhinha

O que aprendeu com os trabalhos como modelo?

Sou atriz desde os 13 anos, mas precisava de um retorno financeiro mais imediato, até para poder investir nos cursos de teatro que tanto queria. Foi muito bom porque acho que, assim como os atores, a carreira de modelo deu-me essa familiaridade com a câmara. Trabalhava muito como modelo fotográfico, até para conhecer o meu corpo. Fiz muitos testes para comercial… Estava sempre em contacto com a câmara e isso foi bom, fui ficando cada vez mais à-vontade.

Qual a sua maior ambição profissional e pessoal?

Quero continuar a fazer o que amo, exercer o meu ofício, viver da arte que é o que alimenta a minha alma. E ter o privilégio de trabalhar até ficar velhinha. Quero continuar a levar o meu trabalho para fora do meu país, já queria isso antes. Portugal, este projeto, marca também a realização de um sonho muito grande. Nunca imaginei que antes dos 30 anos, com 28 anos, já estaria a conquistar mais esta etapa super importante de levar o meu trabalho para fora do meu país. E plantar estas sementes.

Fiquei muito feliz de saber que estou a passar em duas novelas aqui em Portugal ao mesmo tempo, que é ‘Tempo de Amar’, na SIC, e ‘Gênesis’, da RecordTV. Algumas pessoas em Portugal também pararam na rua para falar dessas novelas que estão ver. Fiquei super orgulhosa.

Leia Também: "Entrar no mundo das artes foi como uma boia de salvação"

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