Winston Morgan, investigador de Toxicologia e Bioquímica Clínica na Universidade de East London, no Reino Unido, explicou num artigo publicado no site académico The Conversation, que tal como a toma excessiva de antibióticos, o uso exagerado de gel antibacteriano à base de álcool para a limpeza das mãos pode inadvertidamente contribuir para a resistência antimicrobiana.
Segundo Winston, agentes antimicrobianos, como por exemplo antibióticos ou antivirais, são importantes e benéficos para a saúde. Já que contribuem para a cura de infeções.
Todavia, organismos, incluindo bactérias e vírus, podem mudar ou sofrer mutações após serem expostos a um antimicrobiano. Tornando-os consequentemente cada vez mais resistentes a medicamentos.
"Geralmente (e corretamente) associamos a resistência antimicrobiana ao uso indevido de medicamentos, como antibióticos. O uso indevido pode incluir hábitos como a falha na conclusão de um curso de antibióticos ou ignorar os intervalos diários de dose. Ambos podem aumentar a chance das cepas das bactérias mais resistentes de uma população sobreviverem e se multiplicarema", afirma o investigador.
"Contudo, bactérias e vírus podem igualmente tornar-se resistentes resultante da utilização errada ou excessivo de determinadas substâncias químicas, incluindo produtos de limpeza. Diluir agentes desinfetantes ou usá-los de forma intermitente e ineficiente pode fornecer uma vantagem de sobrevivência para as estirpes de vírus mais fortes", acrescenta.
Ingredientes perigosos
O toxicologista expõe a sua preocupação com o facto de cada vez mais microrganismos estarem igualmente mais resistentes, registando mais mutações e uma maior taxa de prevalência e propagação.
Winston destaca ainda que inúmeros produtos desinfetantes para as mãos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) podem a longo prazo provocar danos no ADN, aumentando assim ainda mais a resistência antimicrobiana.
Os ingredientes mais populares (e potencialmente danosos) utilizados na confeção de desifentantes para limpeza das mãos, englobam vários tipos de álcool, fenóis, triclosan, amónio quaternário, peróxido de hidrogénio, surfactantes e cloreto de benzalcónio.
Winston Morgan alerta assim que ao utilizar qualquer gel antibacteriano, deve encará-lo como um medicamento que requer uma prescrição médica. "Leia as instruções cuidadosamente, pois qualquer desvio pode torná-las ineficazes. Evite diluir ou combinar produtos pré-preparados com outros. Somente faça produtos de limpeza e desinfetantes caseiros usando receitas de sites do governo com ingredientes comprados em lojas confiáveis", aconselha.
E finaliza: "ao tentarmos nos proteger contra a Covid-19 podem também estar a criar um ambiente que facilita o aparecimento de mais microorganismos resistentes. Atualmente, resistência antimicrobiana já provoca anualmente 700 mil mortes todo o mundo".