Cerca de 73 mil portugueses sofrem desta doença incurável
Num artigo de opinião partilhado com o Lifestyle ao Minuto, Pedro Magalhães Costa, assistente hospitalar de Gastrenterologia do Hospital Egas Moniz (CHLO), e Ana Rita Franco, interna de formação específica em Gastrenterologia do CHLO, abordam a evolução tecnológica no diagnóstico da Doença de Crohn.
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Lifestyle Doença de Crohn
O Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal, comemorado no passado 19 de maio, pretende sensibilizar a população para esta entidade, bem como para os obstáculos que estes doentes enfrentam diariamente. A Doença de Crohn, um dos tipos de doença inflamatória intestinal, é uma condição na qual o sistema imunitário se encontra alterado, o que faz com que este ataque o próprio organismo, em vez de o defender das infeções, como seria a sua função.
Neste caso, qualquer parte do tubo digestivo pode ser afetada, desde a boca até ao ânus, embora os locais mais comuns sejam a parte final do intestino delgado e o intestino grosso. Quando o sistema imunitário erradamente reconhece o tubo digestivo como sendo 'uma ameaça', ataca-o, causando inflamação que pode levar ao desenvolvimento de úlceras.
A causa da Doença de Crohn ainda não se encontra bem estabelecida e existem vários fatores que podem contribuir para o seu desenvolvimento. Contudo, sabe-se que ter familiares com esta doença aumenta o risco de a desenvolver. Apesar de afetar igualmente homens e mulheres e atingir todas as idades, esta é uma doença especialmente frequente em jovens entre os 15-35 anos em plena fase de vida ativa, tendo por isso impacto a nível das relações pessoais, profissionais e absentismo laboral. Atualmente, cerca de 73 mil portugueses sofrem de Doença de Crohn.
Neste momento, ainda não existe cura para esta doença. Existem, contudo, vários tratamentos, inclusivamente cirurgia, que permitem melhorar as queixas e induzir a remissão por um longo período de tempo, oferecendo aos doentes mais qualidade de vida. Para o fazer, deve ser realizado um diagnóstico precoce, por forma a adotar a melhor estratégia terapêutica para cada caso.
Os sintomas mais frequentes da Doença de Crohn são a dor abdominal, diarreia crónica (que dura há mais de 1 mês), perda ponderal não intencional, fadiga e lesões na região perianal, como fissuras, fístulas ou abcessos. Também podem ocorrer sintomas não relacionados com o aparelho digestivo, como dores nas articulações e lesões da pele. É frequente haver um atraso no diagnóstico, que pode durar quase dois anos e atrasa o início de tratamento eficaz, podendo levar a doença mais complicada.
O diagnóstico, seguimento e tratamento da Doença de Crohn são realizados pelo Gastrenterologista. Para tal, após o estudo do historial clínico do doente e da sua família, são necessários exames médicos, nomeadamente exames endoscópicos (ileocolonoscopia e endoscopia) e/ou imagiológicos (tomografia computorizada e ressonância magnética). Os primeiros têm a limitação de não permitirem a observação da totalidade do intestino delgado, isto porque a endoscopia permite observar a parte alta do aparelho digestivo (esófago, estômago e duodeno) e a colonoscopia permite observar o intestino grosso e uma curta extensão do final do intestino delgado. Já os exames imagiológicos, apesar de avaliarem o intestino delgado, não observam a sua parte interior e submetem o doente a radiação (tomografia computorizada).
Recentemente, foi desenvolvido um novo exame, denominado de videocápsula endoscópica, que complementa os exames acima referidos, ajudando assim no diagnóstico e monitorização da doença. A videocápsula endoscópica é um exame simples e fácil de realizar: após a realização de uma preparação de limpeza intestinal semelhante à da colonoscopia, é necessário deglutir uma pequena cápsula com duas câmaras incorporadas que percorre todo o tubo digestivo enquanto grava um vídeo, que é posteriormente descarregado e visualizado pelo médico Gastrenterologista.
A cápsula é posteriormente eliminada nas fezes. Trata-se de um exame seguro e com poucos riscos associados. A videocápsula possibilita assim a visualização direta de todo o tubo digestivo, de forma pouco invasiva e sem recurso a radiação, permitindo não só ajudar no diagnóstico, como também monitorizar a atividade da Doença de Crohn e guiar o tratamento a adotar.
Esta é uma tecnologia já estabelecida na prática clínica e disponível em Portugal. A decisão dos exames e tratamentos a realizar deve sempre realizada de forma conjunta entre o médico e o doente.
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