Endometriose "pode causar muita dor e infertilidade". O que deve saber

Tetyana Semenova, ginecologista e especialista ​em fertilidade da Clínica IVI Lisboa, responde a algumas das principais dúvidas das mulheres que sofrem desta doença, que afeta uma em cada 10 mulheres entre os 15 e os 49 anos e que pode causar dor incapacitante e infertilidade. 

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Notícias ao Minuto
09/03/2023 06:00 ‧ 09/03/2023 por Notícias ao Minuto

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"A endometriose está muito subdiagnosticada." Quem o diz é Tetyana Semenova, ginecologista e especialista ​em fertilidade da Clínica IVI Lisboa.

"Não estamos apenas a falar de dores menstruais intensas, mas também de dores fora deste período que podem ter localizações variáveis no corpo da mulher", refere. Em segundo lugar, "também há casos em que é assintomática". "O tempo médio estimado para o diagnóstico pode ser bastante longo e varia entre quatro e 11 anos. Por isso, as mulheres que têm dor crónica não a devem normalizar. É importante procurar um médico para despistar esta ou outras doenças", explica a especialista.

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Segundo Tetyana Semenova, a endometriose consiste na presença do tecido endometrial fora da sua localização habitual: nos ovários, nas trompas de Falópio, nos ligamentos que sustentam o útero e no revestimento da cavidade pélvica ou abdominal. "É um tecido sensível às alterações hormonais ao longo do ciclo menstrual e daí os sintomas que produz, sendo os mais frequentes dor e infertilidade. Apesar disso, algumas mulheres podem ser assintomáticas." Daí que, em alguns casos, o diagnóstico apenas surja quando procuram ajuda para conseguir engravidar. "Há uma estreita relação entre endometriose e infertilidade: cerca de 35% das mulheres com endometriose são inférteis", afirma.

Notícias ao Minuto © Tetyana Semenova

Dor menstrual (dismenorreia), dor na relação sexual (dispareunia), dor ao evacuar (disquezia) e dor ao urinar (disúria) são os principais sintomas, mas há outras dores associadas como a abdominal ou torácica e cada doente apresenta sintomas diferentes e níveis distintos de dor.

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A médica sublinha que a dor pode estar relacionada ou não com a menstruação, mas também podem existir sintomas gastrointestinais ou urinários se os implantes de endometriose invadirem o intestino ou a bexiga. "Esta é, de facto, uma doença que diminui muito a qualidade de vida da mulher, a sua vida sexual e até a vida profissional porque pode ser incapacitante ao ponto de a mulher não conseguir trabalhar", aponta.

A endometriose pode causar também obstrução das trompas ou formação de quistos ováricos que, em determinadas ocasiões, necessitam de cirurgia, com a consequente perda de tecido ovárico e diminuição da reserva ovárica.

O diagnóstico de suspeita pode ser estabelecido com base na clínica e visualização ecográfica ou na ressonância magnética de quistos e/ou nódulos de endometriose. A confirmação é feita através da visualização direta das lesões. Em determinadas ocasiões, têm um tamanho mínimo e apenas é possível identificá-las através de laparoscopia.

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A endometriose pode dificultar a gravidez, principalmente quando envolve as trompas e os ovários. Por isso algumas mulheres que sofrem de endometriose, precisam de realizar tratamentos de procriação medicamente assistida. É importante que as mulheres grávidas com endometriose sejam acompanhadas regulamente pelo médico-obstetra para prevenir complicações: aborto, gravidez ectópica, parto prematuro, pré-eclâmpsia, entre outras.

Esta é uma doença crónica, sem cura. O objetivo do tratamento da endometriose (médico ou cirúrgico) é melhorar a qualidade de vida da mulher, prevenir a eventual progressão da doença, preservar a sua fertilidade ou ajudar na concretização do projeto reprodutivo. A fertilização in vitro é um tratamento apropriado para a infertilidade associada à endometriose quando outras técnicas mais básicas fracassam. A gestação em muitos casos proporciona a melhoria da clínica da endometriose, embora temporária.

A cirurgia, por norma, está indicada para os casos de endometriose mais graves. Consiste na recessão das lesões endometriais nas suas diferentes localizações e restabelecimento da anatomia pélvica. Em muitos casos, é um procedimento complexo que exige uma equipa multidisciplinar (ginecologista, cirurgião geral, urologista), especializada em laparoscopia avançada.

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