Os números não enganam: Dois em cada três cancros são provocados por causas evitáveis. E sim, a alimentação e o sedentarismo são dois dos exemplos mais flagrantes.
Ter um estilo de vida inativo e desequilibrado – seja por excesso ou defeito – é meio caminho andado para que uma mutação celular dê origem a um cancro. Existem muitos fatores de risco para a doença, sendo a alimentação e o sedentarismo dois dos mais penosos. Quando combinados, estes fatores dão origem a dois outros que podem impulsionar ou a agravar a doença, como é o caso da obesidade e da diabetes.
Nos últimos anos têm sido publicados vários estudos e revisões científicas sobre o real impacto da alimentação na prevenção e desenvolvimento do cancro. Alguns parecem ser contraditórios, mas outros apresentam dados e conclusões bastante assertivas e assustadoras.
Em 2015, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta global ao revelar que as carnes processadas (salsichas, fiambre, enchidos, etc.) são cancerígenas e que o consumo regular de carne vermelha é potencialmente cancerígeno. A mesma instituição tem também alertado para o impacto altamente nocivo do consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Antes de conhecermos os alimentos de risco e aqueles que melhor previnem a doença (ou facilitam o tratamento) é importante salientar que os cancros não são todos iguais e que o impacto de um alimento difere de pessoa para pessoa e de idade para idade, sendo, por isso, fundamental procurar o apoio de um especialista na área da nutrição oncológica para perceber quais são os alimentos mais e menos indicados. Além disso, e no que toca à prevenção, a alimentação por si só não faz milagres. A prática de exercício físico é fundamental, assim como a perda de alguns maus hábitos, onde se inclui o tabaco, o consumo excessivo de álcool, o excesso de peso e o sedentarismo.
Tal como revela Magda Roma, “tudo é permitido, depende apenas de si filtrar a informação e ter atenção ao que compra”.
Alimentos de risco
Numa altura em que os riscos associados ao consumo de carne são cada vez mais notórios, muitas pessoas olham para o peixe como a melhor alternativa. Esta proteína animal traz múltiplos benefícios para a saúde (é uma ótima fonte de vitaminas do complexo B, vitamina D, ferro, fósforo e zinco), mas comporta ainda um risco: a contaminação.
Como explica o médico oncologista David Khayat, autor do livro ‘A Dieta Anti-Cancro’ [editora Casa das Letras], as pessoas não devem parar de consumir peixe, mas devem ter uma especial atenção àqueles que sofrem um maior risco de contaminação, como é o caso do espardate, do atum vermelho, da enguia, do cação e do salmonete.
Os peixes gordos são conhecidos pelos benefícios que trazem, mas a presença de ómega 6 não é bem-vinda. “O ómega 6 potencia o armazenamento de gordura no tecido adiposo — pode ser associado à obesidade —, provoca rigidez nas células e origina uma resposta inflamatória às agressões exteriores. Em contraponto, o ómega 3 atua no sistema nervoso, torna as células mais flexíveis e acalma a inflamação”, esclarece Magda Roma no seu livro ‘A Dieta Anticancro’ [editora Vogais].
Continuando no leque de proteínas de origem animal, o consumo de carnes processadas e de carne vermelha deve ser moderado ou até mesmo evitado. Embora a forma como a carne é processada e os ingredientes usados varie de país para país, assim como a própria produção animal, é importante ter em conta que estes alimentos são ricos em gorduras saturadas e, por isso, prejudiciais para a saúde. Olhar com atenção para o rótulo e procurar os nomes a evitar nas carnes processadas e optar por carnes de produção biológica – para não se correr o risco de ingerir aditivos e antibióticos – são duas opções a ter em conta numa alimentação saudável e equilibrada.
Pelo mesmo motivo (risco de químicos, aditivos, conservantes, adoçantes e corantes), também todos os alimentos processados (bolachas, bolos, biscoitos, batatas fritas, etc.) são de evitar. E já agora, sabe diferenciar um alimento processado de um alimento verdadeiro?
No seu livro ‘Comer para Vencer o Cancro’ [editora Lua de Papel], a médica oncologista Paula J. Fonseca revela que as conservas, os fumados e os alimentos conservados em sal são potenciadores de cancro e a “principal causa de cancro do estômago, bem como dos cancros na cabeça e pescoço, esófago e cólon e reto.
Também o açúcar refinado é um inimigo da saúde e um dos alimentos que pode estimular o cancro. O açúcar refinado – sob a sua forma natural, química ou por meio de aditivos – está presente numa grande quantidade de alimentos, sendo, por isso, um fator de risco.
Os alimentos geneticamente modificados são também de evitar. Já o consumo de leite e ovos parece não ter um consenso científico. Magda Roma destaca no seu livro um estudo levado a cabo por Colin Campbell (Universidade de Cornell, nos Estados Unidos), que conclui que o consumo de alimentos de origem animal faz aumentar o risco de doenças do sistema cardiovascular, diabetes, cancro, entre outras. Porém, o consumo de ovos tem-se mostrado benéfico.
“O arsénio na água que bebemos, os nitritos e nitratos na água e em certos produtos de charcutaria industrial” são de evitar, diz David Kahyat, assim como o sangue contido na carne e as matérias gordas ricas em ácidos gordos polinsaturados.
Independentemente do tipo de alimento, se carne, peixe, tubérculo, cereal ou vegetal, o tipo de confeção é também um fator de risco. Como lhe revelámos aqui, os alimentos demasiado tostados, por exemplo, são potenciadores de cancro, assim como aqueles que são cozinhados a altas temperaturas. E por falar em temperaturas, as bebidas muito quentes são igualmente de evitar, como revelou uma investigação da OMS publicada no ano passado.
Reutilizar óleos aquecidos é um procedimento cancerígeno, como indica a OMS.
Segundo Paula J. Fonseca, os alimentos muito picantes e irritantes podem causar cancro da cabeça e do pescoço, contudo, convém salientar que um único alimento não é potenciador da doença. O consumo desmedido e repetido de determinados alimentos é que faz aumentar o risco.
Evitar aquecer alimentos com gordura em recipientes de plástico é também importante, uma vez que a junção de plástico, calor e gordura faz aumentar a produção de dioxinas, que passam diretamente para os alimentos e para o nosso organismo depois de comermos aquilo que foi aquecido.
Alimentos a privilegiar
Como indicámos anteriormente, o peixe é um dos melhores aliados da saúde em geral, contudo, é preciso saber escolher e, acima de tudo, conhecer a origem do animal. Enquanto algumas espécies são de evitar devido ao risco de contaminação, outras devem ser privilegiadas e incluídas na alimentação, como é o caso da cavala, da anchova, da sardinha, da dourada, do salmão fresco, do robalo e da solha. Os camarões são também bem-vindos.
O Código Europeu Contra o Cancro recomenda um maior consumo de frutas, verduras e hortaliças, sendo cinco as doses indicadas por dia. Aquelas que possuem um maior efeito antitumoral são as couves (brócolos, couves-de-bruxelas, couve-coração, couve lombarda, couve frisada, couve de nabos e couve-flor), o repolho, os espinafres e todas as verduras de folha verde, como a acelga, o agrião, etc.
Os tomates, a abóbora, a cenoura e o pimento vermelho são também importantes na prevenção e tratamento da doença devido à presença de betacaroteno. O alho, a cebola, o alho-francês e os cogumelos (shiitake e maitake) são outros alimentos a privilegiar. Estes alimentos são ainda anti-inflamatórios.
No que diz respeito às frutas, deve-se dar uma especial atenção à laranja, cereja, arando, uva, ameixa, melancia e frutos silvestres (morango, framboesa, amora, mirtilos, etc.). O limão, a toranja, a tangerina, o abacaxi e o kiwi, por serem excelentes fontes de vitamina C, são igualmente ‘amigos’.
Os alimentos integrais, como o pão escuro, a massa e o arroz integrais, são também antitumorais pela quantidade de fibra que possuem. As leguminosas (lentilhas, ervilhas, grão-de-bico, vários tipos de feijão) e os ovos são outros alimentos a privilegiar, diz a médica oncológica no seu livro.
Para quem não tem qualquer tipo de intolerância ou reação à lactose, o consumo de iogurtes, queijo fresco, quark e requeijão é também aconselhado.
David Khayat é um dos especialistas que mais estuda o impacto da alimentação no cancro. Mesmo sendo um eterno defensor da possibilidade de erro de alguns estudos, o especialista consegue traçar aqueles que são os melhores agentes anticancro. O sumo de romã, a curcuma, o chá verde, o vinho (quando consumido moderadamente, não mais do que dois copos por dia), o selénio (sob a forma de suplemento) e a quercetina (presente no cacau e na pimenta, por exemplo). Nesta lista, e de acordo com o que já foi aqui escrito, o médico inclui ainda o alho, a cebola e as fibras alimentares.
E como nem todas as gorduras são más, o azeite tem-se assumido como um dos melhores amigos da saúde, seja na prevenção ou no tratamento de doenças.
“Manter-se hidratado ao longo do dia é de extrema importância, principalmente se está num processo de tratamento de cancro”, salienta Magda Roma no seu livro, que destaca ainda que “há inúmeros estudos que relacionam o consumo de algas à ação anti-angiogénica (mecanismo de crescimento de novos vasos sanguíneos), que, em caso de cancro, é essencial para a contínua alimentação das células tumorais”.
A linhaça, a pimenta preta, o cardamomo, os frutos secos e as ervas aromáticas (como rosmaninho, orégão, alecrim, manjericão e salsa).
Por ser anti-inflamatório, o gengibre é também um aliado.