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Fomos medir o pulso à saúde sexual no país. O que dizem os especialistas?

Neste que é o Dia Mundial da Saúde Sexual, 4 de setembro, o Notícias ao Minuto foi tentar perceber como anda a saúde sexual em Portugal junto de três profissionais ligados à área.

Fomos medir o pulso à saúde sexual no país. O que dizem os especialistas?
Notícias ao Minuto

13:28 - 04/09/17 por Vânia Marinho

Lifestyle Dia da Saúde Sexual

Instituído em 2010 pela Associação Mundial para a Saúde Sexual – World Association for Sexual Health, o Dia Mundial da Saúde Sexual assinala-se anualmente a 4 de setembro e tem como propósito apelar para o facto de a saúde sexual e o bem-estar sexual serem um direito humano que deve ser preservado e defendido.

Para assinalar este dia, o Notícias ao Minuto foi tentar saber junto de três profissionais, ligados à saúde e à sexualidade, como está a saúde sexual em Portugal.

Teresa Bombas, médica especialista em ginecologia e obstetrícia e secretária-geral da Sociedade Portuguesa da Contracepção, começa por observar: “relativamente aos outros países da Europa, acho que estamos bem”.

A 'Avaliação das Práticas Contracetivas das Mulheres em Portugal', desenvolvida pela Sociedade Portuguesa da Contraceção e pela Sociedade Portuguesa de Ginecologia em 2015, revelou que 94% das mulheres usam um método de contraceção. Houve ainda uma redução na utilização da pílula e um aumento do uso de meios menos dependentes da utilizadora – como DIU, implante ou anel vaginal.

Já quanto à taxa de interrupção voluntária da gravidez, Teresa Bombas destaca que “ainda não saiu o relatório de 2016, mas os últimos três relatórios mostravam que em Portugal tinha acontecido como noutros países da Europa, ou seja, depois da despenalização da interrupção voluntária da gravidez parece que há um aumento - porque antes não tínhamos dados e passámos a ter -, mas desde há três anos tem diminuído e é notório em alguns grupos, nomeadamente dos adolescentes, um grupo que até nos preocupava.” Tudo isto são, na sua opinião, "bons indicadores evolutivos da saúde sexual".

A especialista revela ainda que “desde 2007 praticamente não há registo de complicações ligadas ao aborto”. Desde 2009 a educação sexual também “tem sido de alguma maneira implementada em todo o país". "Ainda que não seja como desejávamos e de ter muitas lacunas”, lamenta. 

Os problemas do Planeamento Familiar

Em Portugal “temos os métodos de contraceção gratuitos, o que os outros países não têm”, assinala também Teresa Bombas. "Em relação à acessibilidade, aí é que temos as dificuldades, pois não é igual em todas as zonas do país e há lista de espera para consultas. A acessibilidade ao planeamento familiar tem de melhorar.

Henrique Santos, farmacêutico comunitário, concorda com a médica, considerando que “o ponto fraco de todo o tipo de intervenções na área da saúde sexual é a falta de articulação, que praticamente não existe”. A articulação entre a farmácia e os meios do Sistema Nacional de Saúde tem de ser melhorada e aproveitada, até porque é muitas vezes à farmácia que as pessoas recorrem em primeiro lugar – seja para procurar a primeira contraceção, comprar a primeira pílula, contraceção de emergência ou procurar aconselhamento relativo a relações sexuais desprotegidas ou desconfiança de doenças sexualmente transmissíveis.

Em relação ao que pode estar a dificultar esta articulação entre as farmácias e o Sistema Nacional de Saúde, Teresa Bombas o facto de o "plano de consultas de planeamento familiar com uma organização estar sempre a mudar. É impossível fazer um mapa das consultas quando ele está sempre a mudar. Tem mudado porque os profissionais são necessários noutras áreas ou porque há sempre pessoas a reformar-se e ficam lugares em aberto que demoram a ser ocupados”.

Henrique Santos faz ainda sobressair que "a farmácia em tudo é o primeiro, porque está aberta e disponível a todos. Não tem barreiras, o doente chega diretamente ao profissional. Temos de melhorar a integração dos cuidados, senão nada disto é consistente e efetivo.” Conta que vários países desenvolvidos já fazem testes de doenças sexuais transmissíveis nas farmácias. “Estamos a falar de rastreios essenciais”, realça.

“Muitos países deslocam esse serviço para as farmácias e estas depois tratam do encaminhamento. [Em Portugal] tem-se discutido e julgo que se fizeram uns ensaios no Sul. Será a maneira de o cidadão perceber que existe uma integração dos cuidados, cuidados que são da responsabilidade do Estado, ou seja, do Sistema Nacional de Saúde, poderem ser contratualizados na farmácia. Mas isto é válido para tudo, como as vacinas da gripe, as próprias injetáveis e outros tipos de tratamentos”, concretiza o responsável.

Doenças Sexualmente Transmissíveis

Em relação às doenças sexualmente transmissíveis (DST), a Teresa Bombas revela que só existem dados relativos ao VIH, pois as restantes DST não são de registo obrigatório. Mas revela, que “a partir do momento em que se investiu muito na prevenção da SIDA, as pessoas ficaram mais informadas sobre o risco das doenças sexualmente transmissíveis”.

"Temos uma boa cobertura de vacinação para o cancro do colo do útero, o HPV, que está incluído no programa de vacinação para as raparigas na adolescência, mas o passo seguinte é que esta vacina também esteja garantida para os rapazes – como acontece no norte da Europa - uma vez que apesar de não terem a doença, são veículo de transmissão”, refere.

Por outro lado, o Teresa Bombas relata que as “mulheres mais velhas, acima dos 40, são as que usam métodos contracetivos menos efetivos e as que recorrem mais à interrupção da gravidez. Têm menos informação, não tiveram educação sexual e têm vidas mas preenchidas e agitadas que dificultam as idas às consultas de planeamento familiar.”

O prazer é compatível com a proteção da saúde

Hoje em dia as pessoas pensam muito em função do prazer, mas muitas vezes colocam-se numa posição que só lhes pode trazer desprazer. Ou seja, situações de risco, por exemplo, porque tem de ser aqui e agora, numa primeira vez com alguém, e não recorrem ao preservativo. Isso inevitavelmente vai pôr em causa a sua saúde. Porque para além de poder haver uma gravidez indesejada, há um risco imenso de se contrair uma infeção sexualmente transmissível.” As palavras pertencem à sexóloga Marta Crawford, que realça ainda: “Funcionamos muito em função do prazer e do imediato, mas tem de haver uma consciencialização desde muito cedo de que o ‘aqui e agora’ é compatível com cuidados essenciais mínimos. Hoje em dia sexo sem proteção não faz sentido.”

"Só o preservativo, utilizado desde o início da relação sexual, é que nos protege de alguma situação de que até nós podemos não estar cientes. Esta ideia de não usar preservativo porque é mais confortável ou porque se usar parece que estou a desconfiar do outro, ainda existe. Nos tempos de hoje, ofensivo ou idiota é achar que não é preciso proteger a sua saúde e a do outro”, recorda a sexóloga.

Marta Crawford indica ainda que “muitas vezes as pessoas aceitam coisas só pelo prazer que põem a sua saúde em risco também noutros âmbitos, por exemplo pessoas que sentem dor durante o sexo ou pessoas que estão com uma infeção urinária. Há situações muito traumáticas dentro do prazer sexual que têm a ver com candidíase, infeções ou dor de repetição, que levam as pessoas muitas vezes a deixar de olhar para o sexo como uma coisa que é prazerosa. Porque mantiveram durante tempo excessivo a sua atividade sexual. Se eu acho que tendo sexo depois vou estar uma semana aflita com algum problema ginecológico, às tantas prefiro ir comer um gelado, não é?”.

Quanto ao sexo oral com proteção, revela que se as pessoas não procuram a contraceção de barreira na penetração, “no sexo oral ainda menos”. E se para os homens há o preservativo, para as mulheres há toalhitas de latex, ainda que sejam pouco conhecidas. “As pessoas que não fazem sexo oral não é pela preocupação de transmissão, mas porque não gostam ou têm nojo", comenta.

E a saúde da relação, como está?

O tema deste ano para o Dia Mundial da Saúde Sexual é 'laços de amor e intimidade' e por isso, resolvemos também saber como estava a saúde sexual em Portugal no que toca à relação do casal, ou seja, do respeito um pelo outro. Marta Crawford revela, a este propósito, que em casal a questão da falta de desejo “é tabu porque é muitas vezes associada à falta de desejo, de paixão, de amor, de não gostar do corpo do outro, de ter outra pessoa, outra orientação sexual...”.

Em relação à violência no namoro e no casal, revela que a sociedade está muito mais alerta, mas que as redes sociais e as novas tecnologias têm feito com que certos tipos de violência se confundam com “algo normal”. Seja invasões de privacidade, não tolerar que o parceiro receba ‘likes’ ou comentários, vinganças online, etc., explica. 

No que toca ao direito a não ser discriminado pela orientação sexual, comenta a sexóloga que “as leis modernas foram conquistadas a punho por associações. Mas, embora as leis portuguesas sejam ótimas, as cabeças e os preconceitos levam muito mais tempo a mudar. As coisas levam algum tempo, mas temos os mesmo direitos e as pessoas têm de caminhar nesse sentido.”

“A paleta de identidades já não tem só feminino e masculino. Por vezes [isso] pode dificultar o acesso a questões de saúde muitas vezes porque é difícil falar sobre o tema porque nem todos os médicos e técnicos de saúde estão informados. Existem preconceitos e tudo isto dificulta a forma de intervenção dos especialistas nesta área da saúde.”

Em jeito de conclusão, Marta Crawford assinala: “Acho que as pessoas ainda dão respostas standard um bocado antigas e defensivas relativamente a muitas preocupações que os jovens têm e que não são iguais às que se tinha há 50 anos. Há novas realidades e às vezes os técnicos não estão preparados para acompanhar situações que fogem um bocadinho aquilo que considerarão a normalidade.”

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