Na véspera do quinto aniversário do massacre, esta organização não-governamental disse que "a única resposta" por parte das autoridades para a morte de 817 "manifestantes pacíficos", que protestavam contra o derrube militar do islamista Mohamed Morsi foi "tentar proteger da justiça os responsáveis por esses crimes".
A organização Human Rights Watch pede um inquérito internacional a todo este caso.
Foi há cinco anos, a 14 de agosto de 2013, que as forças de segurança lançaram um violento ataque sobre as praças de Rabaa al-Adawiya e de Nahda, no Cairo, onde milhares de pessoas, entre elas mulheres e crianças, acampavam há várias semanas para exigir o retorno do islamista Mohamed Morsi, primeiro Presidente eleito democraticamente no Egito (em 2012) e demitido em julho de 2013 pelo exército, então liderado por Abdel Fattah al-Sisi e atual Presidente egípcio.
Pelo menos 817 manifestantes morreram nas horas que se seguiram ao ataque, segundo a ONG de direitos humanos, que se refere a este acontecimento como o "mais marcante massacre em massa da história egípcia moderna".
Em julho do ano passado, o Egito aprovou uma lei que confere imunidade aos atos cometidos entre 2013 e 2016 por oficiais do Exército, que não podem ser investigados ou processados sem a permissão do Conselho Supremo das Forças Armadas.
Além disso, a legislação confere ao chefe de Estado a prerrogativa de dar "imunidade diplomática" a militares.
Amr Magdi, investigador da HRW, disse à agência Efe que essa lei "mostra que eles têm medo" de serem perseguidos e julgados a qualquer momento, porque os militares "sabem que são culpados de abusos muito sérios".
Segundo o especialista, o despejo de Rabaa al Adauiya não é o único acontecimento onde a lei tentou ser encoberta, e diz ainda haver entre os comandantes militares uma "grande preocupação sobre serem interrogados por crimes contra a humanidade", como é o caso dos que aconteceram no Cairo, em 2013, segundo a HRW.
Magdi explicou que o Tribunal Penal Internacional (TPI) apenas poderá investigar o ocorrido se solicitado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, pois o Egito não ratificou o Estatuto de Roma, tratado fundador deste tribunal.
Além disso, considera, outros países poderiam julgar os factos devido à gravidade dos mesmos e porque o Egito não o está a fazer.
A HRW documentou "seis incidentes em que as forças de segurança abriram fogo ilegalmente contra manifestantes pacíficos" entre 03 de julho e 16 de agosto de 2013, matando pelo menos 1.185 pessoas.
A organização destacou também que a partir de 2013 até ao presente foram processados no Egito centenas de pessoas em "julgamentos em massa" e muitos foram condenados à morte e a prisão perpétua "com acusações injustas" relacionadas com os protestos em favor de Morsi.
Num desses julgamentos em massa, a 28 de julho, um tribunal do Cairo condenou à morte 75 pessoas de um total de 739 réus, na sua maioria islâmicos, manifestantes e vários jornalistas, detidos na praça de Rabaa al Adauiya e arredores, a 14 de agosto de 2013.
Na opinião de Madgi, até que estes acontecimentos sejam devidamente investigados e julgados, o tema será sempre "uma ferida aberta para o povo egípcio".
Nos meses após a violência, as autoridades criaram um comité de investigação e o Conselho Nacional de Direitos Humanos preparou um relatório sobre o despejo de Rabaa al Adauiya, mas nenhuma das iniciativas serviu de base para iniciar procedimentos legais.