Já lá vão cinco dias desde que o pequeno Julen caiu num buraco de prospeção em Totalán, em Málaga, Espanha.
O poço conta com uma abertura de 25 centímetros e uma profundidade de mais de cem metros. A 73 metros abaixo do solo, há uma bolsa de ar no poço onde o menino de dois anos e meio estará. Os mais de cem operacionais no terreno trabalham de manhã à noite para tentarem levar a cabo uma autêntica obra de engenharia civil que não deveria demorar apenas alguns dias. Mas o tempo escasseia.
São estes os números de uma luta contra o relógio para evitar a tragédia. Mas a história de Julen é já uma história de como manter a esperança quando de lá do fundo não chegaram ainda sinais de vida.
Do lado de lá do Oceano Atlântico, o New York Times dava conta de como uma Espanha inteira está atenta ao resgate do menino. Mas não é só de Espanha, é já de todo o mundo que vão chegando mensagens de apoio e esperança, como as redes sociais nos dão conta.
No terreno, há empresas e trabalhadores de outros países a dar apoio às autoridades espanholas. O mais recente material existente para um resgate desta natureza foi levado para ali para ajudar. Tudo por Julen. Todos com Julen.
"A minha casa está aberta"
Foi na serra de Totalán onde tudo aconteceu. Ali, naquela pequena localidade onde vivem pouco mais de 700 pessoas, Julen é o assunto de todas as conversas. Faz-se o que se pode para ajudar.
O Diario Sur conta-nos como no primeiro dia em que começou o resgate, Ana María Silva, que ali vive sozinha, contactou logo a autarquia local. "Se algum dos trabalhadores precisar de tomar duche ou descansar, a minha casa está aberta".
Outra família, em que a mãe é de Totalán mas já lá não mora, voltaram à localidade onde costumam passar férias no verão só para entregar as chaves de casa à autarquia para o que for necessário.
O mesmo jornal conta-nos ainda que os 36 alunos, de diferentes anos, que formam a escola local, continuam a estudar com o ribombar das máquinas a trabalhar no resgate a ecoar pela sala. Têm feito desenhos e outros trabalhos que ilustram o resgate de Julen. Esta semana juntaram-se também empunhando cartazes de apoio.
A caminho do teatro de operações, há cartazes a transmitir o sentimento geral. "Força, Julen. Totalán está com vocês".
Aunque hay muy poco movimiento, el rescate de #Julen sigue presente. Esta noche hace más frío de lo normal, por lo que no hay curiosos y los pocos periodistas que permanecen en la zona aguardan en sus coches.https://t.co/nbh2aQmodF pic.twitter.com/GFoqmsJMnh
— SUR en directo (@SURDirecto) January 18, 2019
Em 2017, os pais de Julen perderam uma outra criança, com três anos de idade, por doença. Por estes dias, o pai do menino tem agradecido o apoio que tem recebido, de fora mas também ali ao lado, onde homens e mulheres continuam a desafiar as probabilidades.
Não por acaso, vão-se recordando histórias onde a terra se fechou para levar gente. Mas onde as probabilidades não foram só desafiadas. Foram mesmo vencidas.
Foi assim no ano passado, quando uma equipa de futebol de adolescentes na Tailândia se viu fechada numa gruta. Foi assim em 2010, no Chile, quando 33 mineiros ficaram soterrados a centenas de metros abaixo do solo. A empresa sueca que na altura os encontrou é das que se ofereceu para estar em Totalán a ajudar.
Mas talvez nenhuma história se assemelhe mais do que a da 'baby Jessica', que caiu num poço de cabeça com apenas um ano de idade, em 1986. A CNN transmitiu o seu resgate ao vivo para o mundo. Ao terceiro dia, foi retirada com vida do poço. Era, no entanto, um poço de 'apenas' sete metros de profundidade.
Mesmo contra o tempo, lutar
A instabilidade no terreno obrigou a alterar os complexos planos, para não correr o risco de ver a terra a ceder e trair os esforços. A previsão de tempo para o fim de semana também não ajuda, com a chuva a ameaçar ainda mais as já difíceis condições.
Mas, em Málaga, continua-se a trabalhar a todo o gás, com cada hora a ser cada vez mais preciosa do que a anterior. Não é fácil mas continua-se a escavar a terra, com o máximo cuidado, na esperança de que Julen esteja vivo.