A população de Hong Hong não quer viver sob o medo de que seja semeado o terror com detenções, disseram em conferência de imprensa vários responsáveis pelo protesto que está agendado para hoje e que tem sido liderado pela organização não-governamental Civil Human Rights Front (CHRF).
A polícia de Hong Kong já informara durante a semana que nos confrontos de quarta-feira foram detidas 11 pessoas, acusadas de crimes como o de participação num motim, cuja moldura penal prevê uma pena máxima de dez anos de prisão.
Algumas das detenções efetuadas pela polícia aconteceram nas instalações das unidades de saúde, uma situação que mereceu críticas tanto de responsáveis hospitalares como da CHRF.
O protesto de hoje, sublinharam, não é motivado apenas pela lei da extradição, mas também para proteger os manifestantes de direitos básicos como a liberdade de expressão.
As forças de segurança haviam confirmado a utilização de gás lacrimogéneo, gás pimenta e armas antimotim para dispersar os manifestantes, bem como ferimentos em 22 polícias.
Pelo menos 80 pessoas foram obrigadas a receber tratamento hospitalar, segundo a imprensa local que cita números fornecidos pelas unidades de saúde.
Hoje, os ativistas reiteraram a ideia de que a violência partiu da polícia e que Hong Kong voltou a provar que os seus manifestantes são "calmos e pacíficos".
Questionados pelos jornalistas, os líderes do protesto sustentaram que a suspensão do debate sobre a lei da extradição é apenas uma tática política motivada pela pressão pública.
A exigência continua a passar pelo abandono da lei, por um pedido de desculpas da chefe do Governo, Carrie Lam, e pela sua demissão.
O anúncio de sábado da chefe do Governo de suspender as emendas à lei que permitiriam a extradição para países sem acordo prévio, como é o caso da China continental, não desmobilizou os opositores, que voltaram a apelar à população de Hong Kong que saísse à rua para defender as suas liberdades.
O protesto agendado para hoje surge depois de no último domingo, segundo os organizadores, mais de um milhão se ter manifestado, e após um protesto na quarta-feira que cercou o quartel-general do Governo durante o qual se registou mais de uma centena de feridos e a detenção de onze pessoas.
Os acontecimentos obrigaram o Executivo a adiar o debate e a encerrar as instalações da sede do Governo, numa primeira fase.
No sábado, Carrie Lam, que no próprio dia dos confrontos tinha reafirmado a sua intenção de prosseguir com as alterações à lei da extradição apesar dos protestos, acabou por anunciar a suspensão do debate sobre a proposta.
Proposto em fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de julho, as alterações propostas permitiriam que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.
Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num "refúgio para criminosos internacionais". Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.
A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respetivamente, decorreu sob o princípio 'um país, dois sistemas', precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em causa.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.