"A promotoria [do Rio de Janeiro] fez um trabalho de porco", afirmou o chefe de Estado brasileiro, ao sair da sua residência oficial em Brasília.
Bolsonaro acrescentou que "a investigação começou no ano passado e eles ainda não encontraram nada".
"Se Flávio [Bolsonaro, filho mais velho do Presidente brasileiro] cometeu um erro, deixe-o responder, não cabe a mim fazê-lo", acrescentou, antes de provocar um dos jornalistas presentes no local.
Flávio Bolsonaro, que atualmente ocupa o cargo de senador (membro da câmara alta parlamentar), é suspeito de praticar desvio de dinheiro público e atos de branqueamento de capital quando era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (2003 a 2018).
A investigação do Ministério Público 'carioca' refere-se mais precisamente à suposta prática da "rachadinha", termo usado no Brasil para designar a devolução de parte dos salários de assessores de políticos em troca da manutenção de seus empregos e a contratação de funcionários fantasmas.
Os promotores do Rio de Janeiro suspeitam que Flávio Bolsonaro possa ter branqueado cerca de 2,3 milhões de reais (510 mil euros) com transações imobiliárias e numa loja que vende chocolates localizada num centro comercial do Rio de Janeiro, da qual é sócio.
Informações sobre transações suspeitas envolvendo o filho mais velho do Presidente brasileiro foram divulgadas no final do ano passado depois de contas bancárias de Fabrício Queiroz, ex-chefe de segurança de Flávio Bolsonaro, terem indicado movimentações atípicas de 1,2 milhões de reais (hoje cerca de 264,3 mil euros) entre 2016 e 2017.
Este valor contrastava com o rendimento mensal de Queiroz que, naquela época, não excedia 20 mil reais (quase 4,4 mil euros), segundo um relatório divulgado no ano passado por um órgão de controlo fiscal atualmente chamado de Unidade de Inteligência Financeira (UIF) e que faz parte do Banco Central brasileiro.
Este relatório foi enviado ao Ministério Público, que começou a analisar as suspeitas, mas a legitimidade da investigação foi contestada judicialmente e o caso acabou paralisado até passar pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta instância judicial do país.
Em julho, o presidente do STF, Dias Toffoli, determinou, por precaução, a cessação de todas as investigações contra Flávio Bolsonaro e os seus assessores, iniciadas com base em dados bancários ou tributários obtidos sem autorização judicial prévia.
No entanto, no mês passado, o caso foi analisado no plenário do STF, onde por uma grande maioria de oito votos contra três foi autorizado o uso de dados fornecidos por entidades oficiais para investigar suspeitas de corrupção sem a necessidade de autorização judicial.