Entre as quatro ameaças assinaladas - as alterações climáticas, a desconfiança dos cidadãos, as tensões geopolíticas e as ameaças tecnológicas -, António Guterres, que falava no Fórum Económico Mundial que arrancou na terça-feira em Davos, destacou as alterações climáticas que, pela primeira vez na história da Humanidade, estão a impor, segundo frisou o representante, um limite físico e real às possibilidades de crescimento.
"É absolutamente necessário" admitir, prosseguiu Guterres, que as alterações climáticas são uma ameaça à existência humana e que estão a progredir mais rápido do que o esperado.
Durante a intervenção, António Guterres mencionou que ainda existem pessoas que argumentam que o planeta Terra pode "resistir a tudo".
Ideia que Guterres refutou, alertando que a capacidade da espécie humana em habitar este planeta e as condições necessárias para tal estão a desvanecer e, como tal, "é urgente" mudar o curso dos acontecimentos.
No discurso, o secretário-geral da ONU apontou algumas situações que confirmam que a crise climática é uma realidade: a subida média das temperaturas do ar e da água dos oceanos e os incêndios que têm devastado países e territórios como a Austrália, Canadá ou a Sibéria.
A boa notícia, referiu António Guterres, é a total consciência e empenho da comunidade científica, que sabe, defendeu o representante, quais são as medidas a tomar, nomeadamente a descarbonização e a redução das emissões globais dos gases com efeito estufa até 2050.
Apesar de considerar que os avanços no dossier climático estão a acontecer muito devagar e de defender que os grandes países "poluentes" têm de se comprometer "a sério" nesta matéria, Guterres reconheceu que os grandes bancos, as empresas de investimento, os bancos centrais e o mundo financeiro, a par dos cidadãos comuns, estão a começar a ter consciência do problema.
Ainda em Davos, o secretário-geral da ONU mencionou a desconfiança dos cidadãos em relação às classes governantes, um sentimento, lembrou o responsável, que esteve na origem de uma vaga sem precedentes de manifestações, protestos e motins que agitou, em 2019, mais de 60 países em todo o mundo.
Segundo o antigo primeiro-ministro português, todas estas crises têm uma explicação e uma origem próprias, mas, segundo frisou, todas elas têm um elo comum, ou seja, a desconfiança generalizada em relação às elites e a uma globalização que apenas aumentou as desigualdades, nomeadamente de género.
António Guterres destacou ainda as tensões geopolíticas e os potenciais conflitos entre certos atores internacionais, como foi o caso recente dos Estados Unidos e do Irão.
Para o representante, tais cenários de conflito só poderão ser evitados com o fortalecimento das instituições de cooperação e de colaboração.
O líder da ONU finalizou a intervenção com uma referência aos riscos associados às novas tecnologias, que classificou como o "lado obscuro", que deixam, em muitos casos, os cidadãos indefesos. Nesse sentido, Guterres defendeu e apelou a uma regulação do ciberespaço.
O Fórum Económico Mundial, que assinala este ano a 50.ª edição, termina na sexta-feira.