Estudo diz que crise pandémica acentua desigualdade de género e raça
Estudo no Brasil concluiu que negros e mulheres devem ser os mais afetados economicamente pela crise sanitária.
© Reuters
Mundo Brasil
Uma rede de investigadores da Universidade de São Paulo desenvolveu durante as últimas semanas um estudo para tentar determinar o impacto social da crise sanitária causada pela Covid-19 no Brasil, concluindo que mulheres e negros deverão ser os mais afetados pela derrapagem económica causada pela paragem das economias.
Segundo estes investigadores, os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a economia brasileira devem deixar 81% da força de trabalho em situação de vulnerabilidade, com risco acentuado de perda de emprego e de rendimentos.
Em números absolutos, agora, ao todo, 75,5 milhões de trabalhadores no Brasil devem enfrentar graus diferenciados de vulnerabilidade, sendo que "o resultado líquido da pandemia será a duplicação do contingente de trabalhadores que vivem sob riscos de saúde/epidemiológicos e económicos".
Segundo os investigadores, o estudo permitiu identificar cinco grupos de trabalhadores com graus diferentes de vulnerabilidade, sendo que na ponta extremamente vulnerável, estão 25,5% dos trabalhadores brasileiros que vivem de atividades em setores considerados não essenciais pelo governo liderado por Jair Bolsonaro e que, por norma, têm vínculos laborais instáveis.
Neste grupo estão trabalhadores dos serviços domésticos, dos serviços de estéetica, do comércio de vestuário, calçado e artigos de viagem, da manutenção e reparo de automóveis, e de atividades jurídicas, de contabilidade e de auditoria.
"Neste momento, não temos uma crise económica comum. Temos uma crise instalada por causa de uma pandemia que é uma coisa totalmente diferente e a necessidade de tirar as crianças da escola para reduzir a velocidade do contágio era essencial. Os professores, pela primeira vez, a despeito do seu vínculo formal, estável, tiveram de se recolher. Era um setor completamente seguro e agora passa a não ser em função do covid-19”, completa Rogério Barbosa, pós-doutorando do Centro de Estudos da Metrópole
Segundo o explicado, a vulnerabilidade dos trabalhadores foi calculada tendo como referência a estabilidade dos vínculos de trabalho, o desempenho económico de diferentes setores durante a crise sanitária e a classificação do governo usada para definir setores essenciais ou não essenciais.
Segundo o noticiado, 38% dos casos mais vulneráveis, ou seja, mais expostos à crise, estão os trabalhadores não essenciais, com vínculo precário, sendo que, nesta franja, 68% da força de trabalho é composta por mulheres de etnia negra.
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