Tanzânia enfrenta Covid-19 com fé e medicina tradicional
Com 480 casos e 16 mortos de covid-19, a Tanzânia suspendeu a divulgação dos dados "para evitar o pânico", continua a funcionar em pleno e incentiva a população a recorrer à medicina tradicional e a rezar.
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Mundo Covid-19
O país, que anunciou o seu primeiro caso em 16 de março, conta oficialmente 480 casos de infeção pelo novo coronavírus e 16 mortes, no entanto, o balanço não é atualizado desde 29 de abril, depois de o Presidente John Magufuli se ter queixado de que o Governo estava a promover o pânico ao divulgar os dados.
O chefe de Estado considerou que as estatísticas são falsas e proibiu as autoridades de saúde de divulgarem mais resultados, tendo também suspendido o diretor e um alto funcionário do laboratório nacional de saúde e determinado uma investigação à forma como estes geriram a pandemia.
A economia do país continua a funcionar, não foram adotadas medidas de distanciamento social nem de confinamento.
As escolas estão encerradas, mas lojas e transportes continuam a funcionar normalmente.
Nas suas intervenções, o chefe de Estado tem minimizado os efeitos da doença e, apesar de ter apelado aos cidadãos para que evitem "concentrações desnecessárias", encorajou a população a continuar a ir à mesquita ou à igreja.
Num dos seus discursos proclamou que "o coronavírus não pode sobreviver ao corpo de Cristo".
"Concidadãos, mantenham-se firmes. Já ganhamos esta guerra. Deus não nos pode abandonar e Deus ama-nos sempre", disse, Magufuli, que declarou "o medo como a maior ameaça" na luta contra a pandemia de covid-19.
A oposição acusa as autoridades de encobrirem os verdadeiros números da doença no país e de não levarem a sério a epidemia, sobretudo depois das mortes misteriosas de três deputados nas últimas semanas.
No domingo, o Presidente tanzaniano veio questionar a eficácia dos testes que estão a ser realizados no país, que foram distribuídos pela União Africana (UA), uma parte dos quais é proveniente de doações da fundação do empresário chinês Jack Ma.
Magufuli explicou que mandou testar secretamente no laboratório nacional uma papaia, uma codorniz e uma cabra e que todos os testes se revelaram positivos.
"É possível que haja erros técnicos ou problemas com os reagentes importados. É também provável que os técnicos estejam a ser pagos para dar resultados enganosos", afirmou num discurso em swahili transmitido pela televisão estatal TBC.
Na quinta-feira, confrontado com as críticas do chefe de Estado da Tanzânia, o diretor do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (África CDC), John Nkengasong, disse que os testes que a Tanzânia e todos os países africanos utilizam são testes "que validámos e que sabemos serem muito eficazes".
Magufuli anunciou ainda ter enviado um avião a Madagáscar para buscar o remédio à base de ervas que o seu homólogo Andry Rajoelina anunciou para a prevenção e cura da covid-19.
A forma como o Presidente da Tanzânia está a lidar com a pandemia é considerada "uma crise nacional" pela oposição.
Esta semana, a Comissão Africana dos Direitos Humanos enviou uma carta apelando à Tanzânia que respeite "os direitos das pessoas à proteção da sua saúde e da sua vida" e ao "acesso a informações de saúde pública" sobre a pandemia.
Peter Fabricius, consultor do Institut for Security Studies, com sede na África do Sul, considera que este foi "um bom primeiro passo", mas defende que, em caso de não haver resposta, a União Africana deve ir mais longe.
"A UA deverá assumir esta questão a um nível mais elevado. A covid-19 não respeita as fronteiras políticas nem as sensibilidades sobre a soberania nacional", disse.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 269 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios. Mais de 1,2 milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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