Violência de género aumentou 8% em Cabo Verde durante Emergência
A Violência Baseada no Género (VBG) aumentou 8% em Cabo Verde durante os dois meses de vigor do estado de emergência, segundo dados avançados hoje à Lusa pelo Instituto Cabo Verde de Igualdade e Equidade de Género (ICIEG).
© Lusa
Mundo Covid-19
Segundo este organismo, que revela dados da Polícia Nacional (PN), durante os meses de abril e maio foram registados 289 casos de violência baseada no género, contra 267 registados no mesmo período de 2019.
Durante esse período, o ICIEG constatou que a Praia registou o maior número de casos (71), seguida de São Vicente (55), São Filipe (26), Sal (22) e Santa Cruz (21).
"Em Santa Catarina de Santiago, contabilizou-se 11 casos, Maio 10, enquanto Ribeira Grande de Santo Antão e Tarrafal de Santiago registaram nove cada", avançou o instituto cabo-verdiano.
Durante o período de confinamento social por causa do novo coronavírus, o ICIEG implementou várias ações para controlar a violência baseada no género e a violência sexual.
Uma dessas ações é a campanha "Bu ka sta bo só" ('Não estás só'), em articulação com a PN, centros de atendimento às vítimas e Ministério Público.
"Acredito que a estratégia montada de combate à violência foi vital para que Cabo Verde não registasse uma explosão de casos durante o isolamento social", salientou o instituto, presidido por Rosana Almeida.
Outra campanha lançada em abril foi "Mascara-19", de denúncias de casos de violência doméstica e violência sexual, que veio juntar um número de envio de mensagens gratuitas e mensagens nos meios de comunicação e em várias outras plataformas.
"O ICIEG desde o início da propagação da covid-19 no país esteve ciente de que em contexto de crise tendem a aumentar as situações de violência doméstica e violência sexual. O estado de emergência decretado a nível nacional desde o dia 29 de março resultou também no isolamento de muitas mulheres com os seus agressores, o que as vulnerabiliza e desprotege de forma muito mais acentuada", sublinhou.
Na nota enviada à Lusa, o instituto cabo-verdiano informou que algumas vítimas (mulheres e seus filhos) foram acolhidas nas casas de abrigo durante o estado de emergência e alguns agressores foram retirados da residência.
"O Instituto continua a apelar à tolerância para evitar casos de VBG e aponta agora as suas baterias às meninas e adolescentes. Com o encerramento das escolas, muitas meninas podem estar a serem forçadas a um intenso trabalho doméstico", prosseguiu a mesma fonte.
Para o ICIEG, a pandemia da covid-19 "não é apenas um problema de saúde", mas também "um choque profundo para as sociedades económicas".
"Alterou, drasticamente, a vida quotidiana. E enquanto todas as pessoas estão engajadas nas medidas de distanciamento social, como acontece em qualquer crise ou pandemia, as mulheres estão sendo afetadas pela covid-19 de maneiras diferentes e menos visíveis", terminou.
O primeiro período de estado de emergência, de 20 dias, começou a 29 de março, tendo vigorado até 17 de abril em todas as ilhas do país, passando depois para 15 dias nas ilhas de Santiago, Boa Vista e São Vicente.
De 03 a 14 maio esse período de exceção vigorou nas ilhas de Santiago e Boa Vista e desde o dia 15 e até pelo menos o dia 29 está em vigor apenas em Santiago, a única ilha com casos ativos de covid-19.
Cabo Verde regista um acumulado de 390 casos de covid-19 diagnosticados desde 19 de março, nas ilhas de Santiago (331), Boa Vista (56) e São Vicente (3).
Três doentes morreram, dois turistas estrangeiros infetados acabaram por voltar aos países de origem e 155 foram dados como recuperados, pelo que permanecem ativos 230 casos, todos em isolamento.
Em África, há 3.246 mortos confirmados em mais de 107 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou quase 345 mil mortos e infetou mais de 5,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 2,1 milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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