"Se não nos unirmos, se não agirmos de forma coordenada a China estará em África para ficar, o Reino Unido regressará, a França regressará, Portugal regressará e, uma vez mais, seremos escravos de outra forma", disse.
Professor de direito e advogado dos Supremos Tribunais do Quénia e Tanzânia, Patrick Lumumba falava hoje durante um debate sobre a criação de condições para o desenvolvimento no continente, organizado pela Agência para o Desenvolvimento da União Africana (AUDA-NEPAD) para assinalar o Dia de África.
Reputado jurista e antigo diretor da comissão anticorrupção do Quénia, Lumumba assinalou que apesar dos protestos dos africanos, a "França continua a manipular as suas antigas colónias", Portugal, "apesar do seu fraco estado, acha que ainda pode controlar Angola e Moçambique", e o Reino Unido mantém "as sua manobras" para controlar os países por si colonizados.
A estes juntam-se, segundo Patrick Lumumba, "os novos colonizadores" como a China.
"A mensagem que temos de enviar é que o pan-africanismo exige que usemos os nossos recursos naturais para o nosso bem-estar", afirmou, elencando várias tentativas "falhadas" de desenvolvimento do continente, nomeadamente os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.
Para o académico e jurista, o caminho para o desenvolvimento de África terá necessariamente de assentar no silenciamento das armas e na resolução dos conflitos que ainda prevalecem no continente.
"Neste exato momento, há conflitos que continuam na região do Sahel e que não são reportados, há desestabilização a começar no norte de Moçambique, há as ações do Boko Haram e a violência que continua no sul dos Camarões", apontou.
"Todos estes conflitos vão travar o caminho para a união de África e, para lá dos discursos, temos de nos perguntar o que estamos verdadeiramente a fazer dentro e fora do continente" para os resolver, frisou.
Por outro lado, questionou, como é que os países estão a envolver os milhões de africanos no estrangeiro no desenvolvimento do continente.
Patrick Lumumba sublinhou a necessidade crítica de os países africanos colaborarem e falarem mais firmemente a uma voz na arena internacional e reclamou das lideranças africanas "medidas revolucionárias" numa altura em que "não há tempo a perder".
"Seiscentos milhões de jovens não têm emprego, as economias estão a encolher. Em nome do pan-africanismo, temos de trabalhar juntos e precisamos de inovar", advogou.
Como exemplos, apontou a iniciativa de Madagáscar em avançar com um potencial tratamento para a covid-19 (CovidOrganics) e a produção de testes rápidos ao novo coronavírus no Senegal.
"Pode estar no início, mas é deste tipo de audácia que precisamos. Esta inovação será muito importante no futuro", adiantou.
África assinala hoje os 57 anos da criação da Organização da Unidade Africana (OUA).
Em maio de 1963, à medida que a luta pela independência do domínio colonial ganhava força, líderes de Estados africanos independentes e representantes de movimentos de libertação reuniram-se em Adis Abeba, na Etiópia, para formar uma frente unida na luta pela independência total do continente.
Da reunião saiu a carta que criaria a primeira instituição continental pós-independência de África, a OUA, antecessora da atual União Africana.
A OUA, que preconizava uma África unida, livre e responsável pelo seu próprio destino, foi estabelecida em 25 de maio de 1963, que seria também declarado o Dia de África.
Em 2002, a OUA foi substituída pela União Africana, que reafirmou os objetivos de "uma África integrada, próspera e pacífica, impulsionada pelos seus cidadãos e representando uma força dinâmica na cena mundial".