OMS pede que Brasil continue a ser transparente na divulgação de dados

A Organização Mundial de Saúde (OMS) apelou hoje ao Brasil para que continue a divulgar de forma transparente os dados da covid-19 no país, após o executivo brasileiro ter transmitido informações divergentes sobre o avanço da pandemia.

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Lusa
08/06/2020 20:15 ‧ 08/06/2020 por Lusa

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"É muito importante que as mensagens sobre transparência e divulgação de informações sejam consistentes, e que nós possamos contar com os nossos parceiros no Brasil, para que nos forneçam essa informação, mas, mais importante, aos seus cidadãos. Eles precisam saber o que está a acontecer, onde o vírus está, como controlar os riscos", afirmou o diretor do programa de Emergências Sanitárias da OMS, em conferência de imprensa.

"Esperamos e confiamos que qualquer confusão que possa existir até ao momento possa ser resolvida e que o Governo do Brasil, e os estados, continuem a comunicar de maneira coerente e transparente aos seus cidadãos", acrescentou o diretor.

Ryan havia sido questionado sobre os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde do Brasil, que no domingo transmitiu números divergentes sobre a quantidade de mortos e infetados pela covid-19 registados naquele dia.

Contudo, apesar de frisar a necessidade de transparência e consistência na divulgação dos dados, o diretor salientou que o Brasil está entre os países que transmite dados mais detalhados à OMS.

"Nós temos dados extremamente detalhados do Brasil sobre a epidemia. Na verdade, alguns dos dados que temos do Brasil estão entre os mais detalhados e atualizados do mundo, e nós sinceramente esperamos que isso continue", declarou Ryan.

O diretor considerou ainda que o "Brasil é um país muito grande, tem uma população muito diversa, tem populações muito vulneráveis, particularmente ao redor de áreas urbanas, povos indígenas, entre outras", e que, por isso, "merece o apoio total" da OMS, que por sua vez continuará "a apoiar o Brasil e a sua população na luta contra a covid-19".

A organização também alertou que, apesar de queda no número de casos em muitos países, a pandemia não está controlada e segue em ascensão na América Latina.

O Governo brasileiro, liderado pelo Presidente Jair Bolsonaro, tem sido criticado nos últimos dias por ter mudado a forma como divulga a evolução epidemiológica da covid-19 no país, ao relatar apenas o número de casos e de óbitos registados nas últimas 24 horas, e omitir os dados acumulados desde o início da pandemia.

Além da suspensão da divulgação de parte dos dados consolidados, Jair Bolsonaro também confirmou que o Governo informará os números após as 22:00 locais (02:00 em Lisboa), muito depois das horas em que os números eram inicialmente difundidos.

A mudança na metodologia causou protestos em diferentes setores, que acusaram o Governo brasileiro de dificultar o acesso à informação.

A alteração também foi associada à intenção de impedir que as informações sejam divulgadas nos noticiários noturnos da rede Globo, que têm a maior audiência do país, e nas edições impressas dos jornais brasileiros.

Na sexta-feira, em declarações aos jornalistas, o próprio chefe de Estado afirmou que, com a mudança, a rede Globo deixaria de ser a "TV Funerária".

Após as alterações ditadas pelo executivo, o Ministério da Saúde também divulgou no domingo dados divergentes sobre a evolução da pandemia, o que levou os principais 'media' do Brasil a formarem uma parceria com o intuito de recolher e divulgar dados da covid-19.

O Governo brasileiro confirmou hoje à tarde o registo de 525 mortes e 18.912 casos do novo coronavírus no país no domingo, depois de divulgar informações divergentes, justificadas pela duplicação dos números registados alguns estados.

"Assim, o último boletim de 24h deve ser considerado 18.912 casos e 525 óbitos novos. O total de casos no país é de 691.758 e de óbitos 36.455 ao longo da pandemia. O número de recuperados soma 283.952 pacientes e outros 371.351 estão em acompanhamento médico", acrescentou a tutela.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 403 mil mortos e infetou mais de sete milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.

 

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