Médico vencedor de Nobel denuncia falhas na luta contra a pandemia na RDC

O médico congolês Denis Mukwege, vencedor de um Prémio Nobel, renunciou hoje às funções que desempenhava contra a propagação da pandemia na província de Kivu do Sul, na República Democrática do Congo (RDC), e denunciou falhas.

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Lusa
10/06/2020 17:25 ‧ 10/06/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

 

"Estamos (...) no início de uma curva epidemiológica exponencial e não podemos mais manter apenas uma estratégia de prevenção", explicou, em comunicado citado pela agência AFP, Denis Mukwege, vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2018 pelo trabalho no apoio a mulheres vitimas de violência sexual na República Democrática do Congo.

Denis Mukwege disse ainda que tomou a decisão de se demitir para se dedicar "inteiramente" às responsabilidades médicas e tratar o fluxo de pacientes no hospital Panzi, que fundou em Bukavu, capital do Kivu do Sul.

O governador do Kivu do Sul tinha nomeado o médico, que é apelidado como 'o homem que cura as mulheres', em 30 de março, como presidente e vice-presidente de dois órgãos oficiais criados para organizar a resposta à covid-19 naquela região.

O médico ginecologista vencedor de um Prémio Nobel lamentou a falta de testes naquela região e ainda o não cumprimento das medidas de prevenção.

"Demora mais de duas semanas para receber os resultados das amostras enviadas para (...) Kinshasa", atirou, explicando que representa "uma grande desvantagem" para a estratégia baseada em "testar, identificar, isolar e tratar".

Denis Mukwege apontou ainda vários problemas que resultaram na "redução de eficácia da estratégia", como o não cumprimento das medidas de prevenção por parte da população, a negação da realidade, a impossibilidade de impor medidas e a fragilidade das fronteiras, com o retorno maciço de milhares de congoleses de países vizinhos sem terem de realizar quarentena.

Desde 10 de março, a República Democrática do Congo regista, nos números divulgados oficialmente, 4.390 casos de contaminados com o novo coronavírus, sendo 3.980 em Kinshasa e 89 em Kivu do Sul, e um total de 96 mortes.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 411 mil mortos e infetou mais de 7,2 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.

Em África, há 5.530 mortos confirmados e mais de 203 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.

Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a Guiné-Bissau lidera em número de infeções (1.389 casos e 12 mortos), seguida da Guiné Equatorial (1.306 casos e 12 mortos), Cabo Verde (615 casos e cinco mortes), São Tomé e Príncipe (611 casos e 12 mortos), Moçambique (472 casos e dois mortos) e Angola (96 infetados e quatro mortos).

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de infetados (quase 740 mil, atrás dos Estados Unidos) e o terceiro de mortos (37.406, depois de Estados Unidos e Reino Unido).

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