UE, EUA e Rússia disputam protagonismo na resolução da crise
O conflito que opõe a Sérvia ao Kosovo, um obstáculo para a pacificação desta região do sul dos Balcãs e o processo de integração europeia, regista uma crescente ingerência internacional onde colidem os interesses da UE, EUA e Rússia.
© Reuters
Mundo Sérvia e Kosovo
Na terça-feira o eslovaco Miroslav Lajcak, emissário da União Europeia (UE) para o diálogo entre Belgrado e Pristina, efetuou a sua primeira visita oficial ao Kosovo. Para a semana, após as legislativas de domingo, desloca-se à capital da Sérvia para um encontro com o Presidente Aleksandar Vucic.
À chegada, a bordo de um avião militar suíço, desejou que Belgrado e Pristina retomem o diálogo e cheguem a um acordo final para a normalização das suas relações, ao sublinhar que foi designado na primavera para facilitar as conversações, suspensas desde novembro de 2018.
O enviado europeu reuniu-se com o chefe de Estado kosovar, Hashim Thaçi, que até então recusava publicamente qualquer diálogo com o diplomata eslovaco, referindo preferir um diálogo dirigido pelos Estados Unidos e apesar de a UE ter iniciado em 2011 o processo de mediação.
No entanto, ficou por definir a data do reinício do diálogo sob a égide de Bruxelas, e quando se avolumam as indicações sobre uma eventual troca de territórios entre a Sérvia e o Kosovo para uma "uniformização populacional", que parece agradar a Washington mas é contestada pelos europeus, com destaque para a Alemanha.
A visita de Lajcak surgiu num momento em que Washington acelerou o seu envolvimento na mediação entre Belgrado e Pristina, ao considerar que pode desempenhar um papel decisivo.
No início desta semana, Richard Grenell, ex-embaixador dos EUA na Alemanha mas que o Presidente dos EUA Donald Trump manteve como enviado especial para o Kosovo, confirmou um encontro na Casa Branca, em 27 de junho, entre responsáveis sérvios e kosovares.
Na sua mensagem na rede social Twitter também assegurou que a Sérvia cessou temporariamente a sua campanha internacional sobre o não reconhecimento do Kosovo, para além de ter garantido em fevereiro que os dois líderes balcânicos concordassem em reiniciar o tráfego aéreo e ferroviário entre Belgrado e Pristina e a construção de uma autoestrada entre as duas cidades.
As pressões de Grenell junto da liderança albanesa kosovar -- e após ter apoiado a destituição do anterior executivo liderado pelo Vetevendosje (Autodeterminação) do ex-primeiro-ministro Albin Kurti, firme opositor a uma eventual troca de territórios -- também foram decisivas para que as fortes restrições impostas em finais de 2018 por Pristina aos produtos provenientes da Sérvia, decisão que agudizou a crise e interrompeu o diálogo, fossem suspensas há duas semanas.
Bruxelas reagiu ao anúncio de Grenell relacionado com o encontro na Casa Branca, ao recordar às lideranças sérvia e kosovar que qualquer acordo no âmbito do diálogo sobre a normalização das relações deverá passar por um processo de negociação conduzido pela UE, enquanto responsáveis diplomáticos se questionavam pelo facto de o convite norte-americano não ter sido coordenado com os europeus.
A UE receia ser colocada à margem do processo após anos de esforços, mas com resultados muito escassos.
Em Bruxelas argumenta-se, no entanto, que as duas partes não poderão entender-se com a ajuda de Washington sobre "qualquer coisa que impeça o objetivo estratégico da população, o seu futuro europeu", como sublinhou Peter Stano, porta-voz para a política externa.
Apesar da persistente crise económica e de uma crescente crispação política a nível interno, Hashim Thaçi mostrou-se intransigente face ao emissário da União: "Ele deve compreender que o Kosovo é um Estado independente e soberano, e que qualquer outra abordagem constituirá um falhanço para si e para a UE. Os cidadãos do Kosovo têm necessidade da liberalização dos vistos, não de palavras".
Lajack é proveniente da Eslováquia, um dos cinco Estados-membros da UE (para além da Espanha, Roménia, Grécia e Chipre), que não reconheceram a independência do Kosovo. E o atual chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, é de origem catalã e um firme opositor à autodeterminação desta comunidade autónoma.
Na quinta-feira, e numa iniciativa paralela, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, deslocou-se a Belgrado para assinalar o seu apoio a qualquer iniciativa que contribua para a solução do conflito entre a Sérvia e a sua ex-província do sul, com maioria de população albanesa, mas que "respeite o direito internacional" e a integridade territorial da Sérvia.
"A posição da Rússia não muda. Apoiaremos qualquer esforço, medidas e iniciativas que ajudem Belgrado e Pristina a alcançar uma solução mutuamente aceitável na base da resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU", disse Lavrov após um encontro com Vucic.
Esta resolução, aprovada em 1999 no rescaldo da "guerra do Kosovo", confirma a integridade territorial da Sérvia, que não reconhece a independência da sua antiga província declarada de forma unilateral em 2008 e de imediato reconhecida por diversos países ocidentais, com destaque para os Estados Unidos.
Lavrov, que visitou Belgrado a três dias das eleições legislativas que apontam para ampla vitória do partido conservador de Vucic, também pediu que não se imponham prazos para a solução do problema.
A Rússia -- para além da China, Índia, África do Sul, entre outros países -- não reconhece a independência do Kosovo e o seu apoio é considerado decisivo por Belgrado, devido a seu estatuto de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e com direito de veto.
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