"Comemoramos uma larga viagem de 25 anos em busca de reconhecimento, justiça e reparação para as vítimas do genocídio de Srebrenica e outros crimes contra a humanidade reconhecidos pelos tribunais internacionais", assinalou Michelle Bachelet, em comunicado.
A ex-Presidente chilena recordou que muitos dos autores das piores atrocidades em Srebrenica já foram julgados, mas que o processo continua e "há que trabalhar mais para garantir a atribuição e responsabilidades e o atendimento às vítimas".
"Os desafios continuam, pois as cicatrizes são profundas e as memórias são ainda muito dolorosas", assinalou a alta comissária, que aproveitou a oportunidade para condenar "a negação de genocídios, a glorificação de criminosos de guerra e obras narrativas revisionistas que viram as costas à verdade e à história".
"Essas são formas de discurso de ódio e, como tal, devem ser tratadas pelos legisladores", acrescentou Bachelet na nota oficial, que garantiu que o uso dessas narrativas para fins políticos foi precisamente um dos fatores que geraram conflitos e sofrimento nos Balcãs.
Entre 11 e 22 de julho de 1995, oito mil homens e rapazes muçulmanos bósnios foram assassinados pelas tropas sérvias, tendo as atrocidades lideradas pelo então general Ratko Mladic sido classificadas como genocídio pela justiça internacional e consideradas o pior crime de guerra da Europa após a II Guerra Mundial.
O massacre terminou com a intervenção da NATO.
O extinto Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ) definiu os acontecimentos de Srebrenica como "genocídio".
O TPIJ, uma instância judicial 'ad hoc' da ONU anunciada em 1993, julgou vários indiciados pelos acontecimentos de Srebrenica, incluindo o ex-líder político dos sérvios bósnios, Radovan Karadzic, condenado em março de 2016 a 40 anos de prisão.
Após um recurso, um tribunal internacional que sucedeu ao TPIJ sentenciou Karadzic a prisão perpétua em março de 2019.
O antigo líder militar dos sérvios bósnios, Ratko Mladic, também foi condenado a prisão perpétua em novembro de 2017, a última decisão do TPIJ antes da sua dissolução.
A possibilidade de familiares e visitantes poderem prestar homenagem aos mortos de Srebrenica deve-se aos cientistas forenses da Comissão Internacional sobre Pessoas Desaparecidas.
A Comissão, instituída em 1996 após forte insistência do então Presidente dos EUA Bill Clinton, elaborou um sistema de ADN para localizar e identificar os restos de cerca de 40.000 pessoas, a larga maioria da Bósnia, que alegadamente foram consideradas desaparecidas na sequência das guerras na ex-Jugoslávia que se prolongaram durante a década de 1990.
A Bósnia-Herzegovina, pequeno país dos Balcãs com cerca de 3,5 milhões de habitantes e que permanece dividido em linhas étnicas, é habitado por cerca de 50% de muçulmanos bosníacos, 33% de sérvios ortodoxos e 15% de croatas católicos.