A informação, veiculada na noite de quarta-feira, indica que os exercícios russos vão decorrer entre 08 e 22 e de 17 a 25 de setembro em áreas do Mediterrâneo onde estão a operar navios turcos de pesquisa sísmica.
A Rússia escusou-se a comentar no imediato estes exercícios, revelados pela Turquia após os Estados Unidos terem anunciado o levantamento parcial do embargo de armas à ilha dividida de Chipre, em vigor há 33 anos.
Nos últimos anos, a Turquia e a Rússia reforçaram de forma significativa a cooperação militar, política e económica, mas ainda não é claro o motivo pelo qual Ancara anunciou estas manobras.
Os dois países têm coordenado de forma estreita a sua presença militar na Síria, e a Turquia adquiriu o moderno sistema de mísseis russos S-400, para além de ter negociado a construção pela Rússia de uma central nuclear na sua costa sul.
No entanto, os dois países têm divergido na abordagem ao conflito na Líbia, situando-se aparentemente em campos opostos.
A Turquia reagiu vigorosamente à decisão dos EUA, que considerou contrária do "espírito da aliança" entre Washington e Ancara.
Avisou ainda que a medida vai comprometer os esforços para a reunificação de Chipre, dividida entre as comunidades cipriotas grega e turca.
Responsáveis turcos também admitiram novas medidas para garantir a segurança da autoproclamada República Turca de Chipre do Norte (RTCN), que ocupa o terço norte da ilha.
O anúncio da Turquia coincide com um período de crescente tensão entre a Turquia, por um lado, e Grécia e Chipre, em torno dos direitos de exploração dos recursos energéticos ao largo das suas costas.
Navios de guerra da Grécia e da Turquia têm-se vigiado mutuamente nas últimas semanas, enquanto navios de vigilância e de prospeção turcos continuam a tentar detetar hidrocarbonetos em águas onde Grécia e Chipre afirmam possuir direitos económicos exclusivos.
O embargo dos Estados Unidos, imposto em 1987, foi justificado como uma medida para impedir uma corrida aos armamentos que poderia comprometer os esforços de mediação da ONU para a reunificação de Chipre. Foi diretamente dirigido contra a República de Chipre, a parte cipriota grega da ilha que ocupa o centro-sul da ilha e internacionalmente reconhecida.
Chipre está dividida desde 1974 na sequência de uma invasão militar da Turquia na sequência de um fracassado golpe de nacionalistas cipriotas que pretendiam a união com a Grécia. A Turquia é o único país que reconhece a RTCN e mantém mais de 35.000 tropas no norte da ilha.
Washington indicou que levantou o embargo às armas contra Chipre por um ano, com a opção de renovação, para permitir a "aquisição de equipamento não letal".
A embaixadora norte-americana em Chipre, Judith Garber, disse que o levantamento do embargo não deve ser relacionado com "o valioso parceiro e aliado" Turquia, destinando-se antes ao reforço da segurança regional e "contrariar os atores malignos na região".
Garber disse que Washington prescindiu de uma ação para que Chipre termine com o abastecimento e outros apoios portuários fornecidos a navios de guerra russos, mas assegurou que vai continuar a "encorajar" o Governo cipriota para que rejeite esses serviços.
"Consideramos que a Rússia está a desempenhar uma função muito desestabilizadora na região, em particular na Síria", indicou Garber.
A Rússia possui uma importante presença naval no Mediterrâneo oriental e efetua manobras militares com regularidade, precisa a agência noticiosa Associated Press (AP). E o anúncio sobre a realização de exercícios de fogo real poderá significar uma subtil mensagem de que Moscovo permanece um decisivo ator na região, cuja influência não será comprometida com a decisão de Washington sobre a suspensão do embargo às armas dirigido a Chipre.