No dia 4 de agosto, Hayat Nazer, uma artista libanesa, estava a caminho de Beirute quando a cidade foi abalada por uma explosão de grande dimensão. 2.750 toneladas de nitrato de amónio, armazenadas no porto da capital libanesa, explodiram deixando um rasto de destruição e de vítimas. Morreram 190 pessoas, mais de seis mil ficaram feridas e mais de 300 mil pessoas ficaram desalojadas.
A explosão agravou os danos de um país que já estava muito danificado pela instabilidade política de anos a fio, pelo colapso económico e por um surto de coronavírus.
“A explosão partiu-me o coração. Fiquei devastada. Fiquei traumatizada, mas, sinceramente, todos nós no Líbano estamos traumatizados”, afirmou Nazer em declarações à CNN. A arte pode ser uma forma de curar feridas e foi isso mesmo que Nazer fez.
Tal como muitos outros habitantes de Beirute, a artista arregaçou as mangas e juntou-se aos esforços de limpeza dos destroços que se espalharam por uma área significativa da cidade. Foi nessa altura que lhe surgiu a ideia de criar uma estátua para unir e inspirar o povo libanês.
Durante semanas, recolheu destroços nas ruas de Beirute: pedaços de metal, estilhaços de vidro e até bateu à porta de residentes da cidade para lhes pedir bens que pudesse acrescentar à estátua que idealizou e que lhe permitisse incluir essas pessoas na escultura.
O resultado final é uma estátua de uma mulher com o cabelo a esvoaçar e que segura uma bandeira do Líbano. Aos seus pés está um relógio danificado e cujos ponteiros assinalam a hora da explosão, 18h08.
A estátua foi colocada em frente ao porto de Beirute, o epicentro da explosão. “Esta foi a minha forma de aceitar a realidade e tentar reerguer o meu povo”, sublinhou Hayat Nazer.