Kamala Harris foi a primeira a falar na madrugada deste domingo, noite de sábado nos Estados Unidos, e destacou que as "pessoas têm o poder de construir um futuro melhor". "Quando a nossa democracia estava em jogo e com o mundo a ver, vocês lançaram um novo dia para a América", advogou a vice-presidente eleita nos Estados Unidos.
"Vocês protegeram a integridade da nossa democracia", declarou, agradecendo ainda a todos os que foram às urnas nestas eleições. "Enviaram uma mensagem clara, escolheram a esperança, a unidade, a decência, a ciência e a verdade. Escolheram Joe Biden como o novo presidente dos Estados Unidos da América".
Kamala agredeceu também à sua família e à de Biden, com uma menção especial para a sua mãe, que escolheu os Estados Unidos para viver, vinda da Índia.
A vice-presidente eleita referiu ainda as mulheres que lutaram para que todas pudessem votar - "hoje reflito a sua determinação, a sua visão" - e celebrou a escolha de Biden por uma mulher como sua vice: "Sou a primeira mas não serei a última".
While I may be the first woman in this office, I will not be the last—because every little girl watching tonight sees that this is a country of possibilities.
— Kamala Harris (@KamalaHarris) November 8, 2020
Prometeu ainda ser uma número dois para Biden como este foi para Obama "leal, honesta" e a "acordar todos os dias a pensar em vocês e na vossa família", porque "é agora que o trabalho começa".
"Os dias não serão fáceis mas estamos preparados, o Joe e eu. Elegemos um líder que o mundo vai respeitar e que será para todos os americanos", terminou.
For four years, you marched and organized for equality and justice, for our lives, and for our planet. And then, you voted.You voted for hope, unity, decency, science, and truth when you chose @JoeBiden as the next President of the United States of America.
— Kamala Harris (@KamalaHarris) November 8, 2020
Kamala Harris tornou-se este sábado a primeira mulher afro-americana a ser eleita vice-presidente dos Estados Unidos, rompendo barreiras que mantiveram os homens, quase sempre brancos, nos lugares mais altos da política norte-americana durante séculos.
A até agora senadora da Califórnia, de 56 anos, é também a primeira pessoa de ascendência sul-asiática a assumir a vice-presidência, representando o multiculturalismo que define a América mas está em grande medida ausente dos centros do poder de Washington.
A multirracialidade da candidata, nascida em 1964 de mãe indiana e pai jamaicano, ambos emigrantes, foi sempre um ponto saliente na sua carreira, tornando-a pioneira em quase todas as posições de liderança que assumiu.
Harris sempre usou como bandeira a inspiração nos movimentos de direitos civis e naqueles que abriram caminho antes dela, com destaque para Shirley Chisholm, a primeira afro-americana a candidatar-se à nomeação presidencial pelos democratas, em 1972.
A candidata já se destacava nos tempos de estudante na Faculdade de Direito de Hastings, da Universidade da Califórnia, onde se doutorou em Direito em 1989 depois de se formar em ciência Política e Economia na Universidade de Howard.
Então com 24 anos, e antes de iniciar a carreira que a levaria à vice-Presidência, Kamala Harris beneficiou de uma das melhores formações legais do país. "Uma coisa interessante que Hastings tinha naquela altura era um grupo de professores que se tinham reformado de faculdades de Direito de topo de todo o país e foram trazidos como professores eméritos", explicou Heinz Klug, referindo-se ao conhecido "Clube dos 65".
Eleita procuradora-geral distrital do condado de São Francisco em 2003, Harris cultivou uma postura agressiva na perseguição de crimes violentos, com armas e de natureza sexual, tendo também criado a Unidade de Crimes de Ódio.
A sua mão pesada continuou como procuradora-geral da Califórnia, que exerceu entre 2011 e 2017 e em que perseguiu crimes de tráfico de seres humanos, tráfico de droga e crimes tecnológicos, entre outros, mas que lhe rendeu muitas críticas.
Kamala Harris sempre foi considerada uma moderada e, numa altura em que se agudizam os pedidos de reforma na polícia e os protestos desencadeados pela morte do afro-americano George Floyd, o seu histórico de tolerância para com agentes envolvidos na morte de civis gerou controvérsia.
No único debate vice-presidencial, Mike Pence acusou-a de não ter "levantado um dedo" para reformar o sistema criminal quando chegou a Washington, D.C. como senadora, no início de 2017.
Harris, que se destacou nos debates das primárias democratas antes de desistir da nomeação, respondeu a Pence que não aceitava lições de moral desta administração, que acusou de ser "o maior falhanço de qualquer administração presidencial na história do nosso país".