O National Audit Office disse, num relatório publicado hoje, que empresas com ligações a políticos tiveram um acesso rápido e mais oportunidades de conseguir contratos de fornecimento do que outros candidatos.
O Reino Unido, tal como muitos outros países, enfrentou dificuldades devido à falta de máscaras, batas, luvas e outras peças de equipamento necessárias para proteger os profissionais de saúde na primeira vaga da pandemia, durante a primavera.
Numa tentativa de aumentar as reservas, o Governo concedeu 8.600 contratos no valor de 18 mil milhões de libras (20 mil milhões de euros) entre março e julho, a maioria por adjudicação direta e sem um processo de licitação pública.
Alguns foram facilitados através de uma "via de alta prioridade" a empresas recomendadas por políticos, profissionais de saúde e funcionários do governo, que foram considerados de maior confiança e processados mais rapidamente do que outros.
O auditor oficial disse, a propósito de uma amostra de casos que estudou, que "os ministérios não documentaram as decisões-chave, como por que motivo escolheram um fornecedor específico ou porque recorreram a adjudicação de urgência, e não documentaram a consideração dos riscos, incluindo como identificaram e geriram eventuais potenciais conflitos de interesse".
Em alguns casos, faltam documentos que suportem as decisões ou foram celebrados contratos depois de os trabalhos já terem sido concluídos.
Em mais da metade dos casos, os contratos não foram publicados até 10 de novembro.
A deputada do Partido Trabalhista Meg Hillier, que chefia a Comissão de Contas Públicas do Parlamento, acusou o Governo de ter "violado as regras e atropelado os interesses do contribuinte".
Mas o ministro da Economia, Alok Sharma, defendeu o executivo, alegando que agiu com urgência e sob "grande pressão" numa situação de crise.
"Tivemos de fazer uma enorme quantidade de trabalho muito rapidamente para garantir o PPE [Equipamento de Proteção Pessoal] e foi isso que fizemos, e não vou pedir desculpa por termos feito esse esforço", afirmou hoje à BBC.
Questionado sobre um caso específico noticiado na terça-feira de um empresário espanhol que terá recebido 21 milhões de libras (24 milhões de euros) para atuar como intermediário num desses contratos, Sharma insistiu que "foram feitos controlos".
O Reino Unido é o país europeu com o maior número de mortos na Europa, e o quinto a nível mundial, atrás dos EUA, Brasil, Índia e México.
Na terça-feira registou mais 598 mortes, aumentando para 52.745 o total oficial desde o início da pandemia covid-19, mas o balanço sobe para 63.873 quando são incluídos todos os casos que não foram confirmados por teste, mas cuja certidão de óbito refere covid-19.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.328.048 mortos resultantes de mais de 55 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 3.553 pessoas dos 230.124 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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