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Seria "terrível" que África fosse discriminada em relação às vacinas

O diretor do Africa CDC, John Nkengasong, considerou hoje que, agora que o ocidente iniciou a campanha de vacinação contra a covid-19, "seria terrível que o mundo recebesse as vacinas, mas não o continente africano".

Seria "terrível" que África fosse discriminada em relação às vacinas
Notícias ao Minuto

12:48 - 10/12/20 por Lusa

Mundo África CDC

"Isso criaria uma questão moral, a forma de descrever não pode ser outra, criaríamos um dilema moral", reforçou o diretor do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (Africa CDC), em declarações na conferência de imprensa semanal da organização, em formato virtual, a partir da sua sede, na capital da Etiópia.

"Até hoje falámos sempre na necessidade de exercitarmos a solidariedade e a cooperação global em termos da prevenção e tratamento da doença, incluindo a vacinação. Chegou a altura de traduzirmos essas palavras em ações", disse.

Nkengasong sublinhou que "muitos países ocidentais compraram mais vacinas do que precisam", e, ainda que África esteja envolvida no mecanismo COVAX (liderado pela OMS, CEPI e Gavi, com objetivo de acelerar o fabrico de vacinas covid-19, e garantir um acesso global equitativo), esse mecanismo não irá suprir as necessidades do continente.

"África já tem muitas doenças endémicas, não precisa que a covid-19 se converta em mais uma. O continente precisa de vacinar 60% dos 1,2 mil milhões de habitantes. Esse é o nosso objetivo, que assumimos seriamente, e estamos a trabalhar com os nossos parceiros (Banco Mundial, Afreximbank, COVAX) para o alcançar", afirmou.

O responsável reconheceu que as diferentes vacinas já disponíveis impõem condições de armazenamento e distribuição desafiadoras, como são os casos da vacina da Pfizer e da Moderna, mas disse que "o mais importante" é que o continente comece a campanha de vacinação "o quanto antes".

E mesmo em relação àquelas duas vacinas, sublinhou que "as condições de armazenamento e distribuição não impedem que sejam criados pontos de vacinação nas capitais africanas". "O importante é começarmos, é não ficarmos completamente parados".

A título de exemplo, sugeriu: "Numa cidade como Adis Abeba (sede do Africa CDC), conseguimos montar 20 centros de vacinação com equipamentos para armazenar vacinas a temperaturas de -80ºC, e encaminhar as pessoas nessa direção? Isso seria um começo e dar-nos-ia a oportunidade de começar a campanha de vacinação enquanto esperamos por outras vacinas que eventualmente requeiram condições de armazenamento menos restritivas".

"Essa é a forma como devemos prosseguir com a vacinação e garantir que o continente não se senta a ver como o mundo é vacinado", reforçou Nkengasong.

O diretor do Africa CDC fez ainda a habitual síntese da evolução epidemiológica na última semana, começando por indicar foram até agora registados 2,3 milhões de casos de infeção nos 55 estados africanos, representando 3,4% do número total de infeções no mundo.

"Continuamos a assistir a um número notável de recuperações, mais de 1,9 milhões, representando cerca de 85% do número de infeções e, em termos de mortes, 54 mil pessoas morreram com esta infeção, o que aponta para a estabilização da taxa de fatalidade na ordem dos 2,4% e representa 3,5% do total de mortes no mundo", disse.

Cinco países são responsáveis por cerca de 70% dos casos em África, e estes incluem a África do Sul (36% do número total de casos no continente), Marrocos (17%), Egito (5%), Etiópia (5%) e Tunísia (5%).

Em termos de tendências, na última semana o continente registou cerca de 100 mil novos casos de infeção (representando um crescimento de 7,8% em relação à semana passada) e cerca de 2,1 mil mortes (mais 7%).

Os cinco países que reportaram um maior número de novos casos incluem a África do Sul (cerca de 26 mil novos casos de infeção), Marrocos (25 mil novos casos), Tunísia (8 mil), Argélia (6 mil) e Quénia (5 mil novos casos de infeção), indicou o diretor do Africa CDC.

Analisado um período de quatro semanas, entre 09 de novembro e 06 de dezembro, o crescimento de novos casos por regiões africanas foi de 4% na África Oriental, 3% na África do Norte, 19% na África Austral, 12% na África Ocidental.

Em termos dos países com maior população, durante o mesmo período de quatro semanas, registou-se um aumento de 18% de novos casos na Nigéria, uma diminuição na ordem de 5% de novos casos na Etiópia, que continua a registar uma tendência de queda de novos casos, um aumento de 19% de novos casos no Egito, mais 44% de novos casos na República Democrática do Congo (RDCongo), aumento de 27% na África do Sul e uma diminuição de 5% de novos casos no Quénia.

Em termos de mortes, foi registado no mesmo período um aumento médio de 6% na Nigéria, 7% na Etiópia, 10% no Egito, 8% na RDCongo e 19% na África do Sul.

Nkengasong indicou ainda que cerca de 700 técnicos receberam na última semana formação de formadores no tratamento e prevenção da doença, 31 dos quais em países de língua oficial portuguesa.

Finalmente, o continente realizou até agora 23 milhões de testes, segundo o diretor do Africa CDC, número de representa um aumento de 3,1% em relação à semana passada, tendo este esforço sido liderado pela África do Sul, Marrocos, Egito, Quénia, Nigéria, Uganda, Camarões, Ruanda e Gana.

O África CDC recebeu até à data 2,9 milhões de testes antigénicos provenientes de diferentes parceiros e distribuiu mais de 700 mil pelos diferentes Estados-membros.

Com respeito às vacinas, Nkengasong anunciou que será realizada uma reunião na próxima segunda-feira entre o Africa CDC e o Conselho sul-africano de Investigação Médica com o objetivo de ser constituído um quadro para a distribuição justa e equitativa das mesmas.

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