Numa ordem executiva assinada na quarta-feira, poucas horas depois de ter tomado posse como 46.º Presidente dos EUA, Joe Biden dissolveu a Comissão 1776, que tinha sido nomeada por Trump, e removeu um relatório que tinha sido divulgado por esse grupo de especialistas na segunda-feira.
No relatório, que Trump esperava que fosse usado nas salas de aula de todo o país, a Comissão 1776 glorificava os fundadores do país, minimizando o papel dos Estados Unidos na escravidão, condenando o crescimento da política progressista e argumentando que o movimento pelos direitos civis tinha entrado em conflito com os ideais defendidos pelos pais fundadores da nação.
O painel de especialistas da comissão, que não incluiu historiadores profissionais dos Estados Unidos, criticava as "ideologias falsas e de moda", que descrevem a história do país como de "opressão e vitimização".
Em alternativa, o relatório recomendava um esforço renovado para promover "um amor corajoso e honesto" pelos Estados Unidos.
A comunidade de historiadores norte-americanos criticou amplamente o relatório, dizendo que ele apresenta uma versão falsa e desatualizada da história norte-americana, ignorando décadas de investigação.
"É um insulto a todo o empreendimento educacional. A educação deve ajudar os jovens a aprender a pensar criticamente", disse David Blight, um historiador da Guerra Civil, da Universidade de Yale, acusando o relatório de ser "uma peça de propaganda da direita".
O Governo de Trump referiu-se ao relatório como uma "crónica definitiva da criação dos Estados Unidos", mas historiadores dizem que ele ignora as regras básicas de documentos científicos, nomeadamente não possuindo referências bibliográficas para sustentar os argumentos.
O relatório também inclui várias passagens copiadas diretamente de outros escritos, como um investigador descobriu, depois de analisar o documento através de um programa informático para detetar plágios.
Também a Associação Americana de História condenou o documento, dizendo que ele glorifica os fundadores, enquanto ignora as histórias e contribuições de povos escravizados, comunidades indígenas e mulheres.
O relatório terminava pedindo uma mudança estrutural do ensino da história nas escolas e nas universidades norte-americanas, que o painel de especialistas descrevia como sendo "focos de antiamericanismo".
Na sua ordem executiva de dissolução da Comissão 1776, Biden disse que o objetivo dessa iniciativa era "apagar a história de injustiça racial da América".