O Partido Democrático Trabalhista (PDT), que entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar esses gastos, considera que os valores são "exorbitantes".
"Como se vê, o montante de dinheiro público gasto nas aludidas compras não guarda sintonia com a natureza, nem tampouco com a quantidade de pessoas que porventura consumirão os produtos, o que indica a ocorrência de prática criminosa", diz a ação entregue pelo partido.
O PDT argumenta ainda que o Presidente, Jair Bolsonaro, teria cometido peculato e prevaricação.
Em causa está uma reportagem publicada na domingo último pelo jornal Metrópoles, mostrando que, no ano passado, todos os órgãos do executivo pagaram, juntos, mais de 1,8 mil milhões de reais (270 milhões de euros) em alimentos, o que representa um aumento de 20% face a 2019.
O assunto rapidamente gerou críticas nas redes sociais, chegando a ser o tema mais comentado do dia na rede social Twitter e tornando-se alvo de vários 'memes'.
Além dos 15 milhões de reais retirados dos cofres públicos para leite condensado, outros dos gastos mais polémicos são 2,2 milhões de reais (340 mil euros) em pastilhas elásticas, 13,4 milhões de reais (dois milhões de euros) em barras de cereais, 16 milhões de reais (2,44 milhões de euros) em batatas fritas embaladas ou 8,8 milhões de reais (1,3 milhões de euros) em bombons.
As compras referem-se a todo o poder Executivo Federal, que engloba Ministérios e Universidades, por exemplo.
Os gastos geraram revolta num momento em que o país atravessa uma grave crise económica e de saúde devido à pandemia de covid-19, que levou à escassez de oxigénio em hospitais do Amazonas.
"Gastos com chiclete, leite condensado, alfafa... Absurdo de um país sem lei! Nove milhões de quilos de sal. Quase 25 toneladas de sal por dia. (...) Aumento dos gastos públicos em ano de pandemia e falta dinheiro para salvar vidas! Isso é corrupção", escreveu no Twitter o presidente do PDT, Ciro Gomes.
"Leite condensado aos milhões, enquanto falta oxigénio? Que os responsáveis sejam punidos", acrescentou Ciro, que defrontou Bolsonaro nas presidenciais de 2018, das quais saiu derrotado.
Também o deputado David Miranda, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) entregou uma ação pedindo que o procurador-geral da República investigue os gastos com bebedias e alimentação.
"Bolsonaro gastou mais de 1,8 mil milhões de reais em mercado. Isso só em 2020. O Brasil não estava quebrado? Quantos cilindros de oxigênio esse valor compraria? Isso é lavagem (de dinheiro)? sobrefaturamento?", questionou o parlamentar.
O vice-presidente do Brasil, general Hamilton Mourão, comentou hoje a polémica, justificando que nesses gastos "está embutida alimentação com as Forças Armadas, órgãos policiais federais, sistema prisional federal e hospitais federais".
"É um gasto de alimentação geral, de todo o Governo. Ah bom, tem 15 milhões em leite condensado. Lógico, tem toda uma gama de entidades que fizeram essa compra. Não significa que o Governo centralizadamente fez isso", acrescentou Mourão em entrevista à Rádio Bandeirantes.