"Novas tecnologias disruptivas, como a inteligência artificial, a computação quântica, sistemas autónomos e o reconhecimento facial, irão mudar fundamentalmente a natureza da guerra. Temos de nos assegurar que mantemos a vantagem tecnológica que tão bem serviu a NATO durante muitos anos", sublinhou Jens Stoltenberg em conferência de imprensa após o primeiro dia da cimeira virtual que reúne os ministros de Defesa da Aliança.
De maneira a preservar a dianteira tecnológica, Stoltenberg salientou assim a necessidade de desenvolver novas capacidades militares, assentes em novas tecnologias, que preservem a interoperabilidade dos sistemas entre os Aliados.
"Temos de nos assegurar que estas capacidades podem operar em conjunto. O padrão da NATO de interoperabilidade sempre foi importante mas, agora, é ainda mais importante porque vamos ter tecnologias mais avançadas embutidas nas nossas capacidades militares", afirmou.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês) abordou também as "questões éticas", "muito sérias" e "muito difíceis", que a incorporação de novas tecnologias em sistemas militares pode criar, frisando que a Aliança servirá de "plataforma" para que estas possam ser discutidas.
"Não há nenhuma resposta fácil [para esta discussão], mas temos de tentar criar processos para abordarmos uma maneira de desenvolver orientações éticas mínimas sobre o uso destas tecnologias em sistemas de armamento, e a NATO é uma plataforma para isso", defendeu.
Stoltenberg mostrou-se ainda satisfeito com o aumento do investimento de todos os Aliados na área da defesa desde 2014, referindo que 2021 é o "sétimo ano consecutivo de aumento das despesas em defesa da parte dos Aliados europeus e do Canadá", o que se traduz num aumento de 190 mil milhões das verbas derivadas desses parceiros.
"Além do aumento em despesas de defesa, 20% dessas despesas são alocadas a investimentos em novas capacidades, o que significa também novas tecnologias. Por isso, quando investimos em novos aviões e em novos drones, também investimos em novas tecnologias, permitindo que mantenhamos a vantagem tecnológica", apontou.
Abordando ainda o tema das contribuições dos Aliados, Stoltenberg reiterou a ideia que já tinha apresentado segunda-feira, segundo a qual os Estados-membros da NATO devem contribuir mais para as atividades de dissuasão e de defesa da Aliança.
"Trata-se de definir sobre como gastamos o dinheiro. Deveríamos gastar mais do nosso financiamento total para a defesa conjunta, porque irá fortalecer a dissuasão e a defesa, irá fornecer mais capacidades para os grupos de batalha, policiamento aéreo e contribuir para uma maior repartição de encargos", sublinhou.
A vertente do investimento e da aposta em novas tecnologias disruptivas foram duas propostas hoje apresentadas por Stoltenberg aos ministros da Defesa, no âmbito do projeto de reflexão NATO 2030, que deverá projetar a NATO do futuro e levar a uma atualização do atual conceito estratégico da Aliança.
Questionado pelos jornalistas sobre a necessidade de atualizar esse conceito, desenvolvido em 2010, Stoltenberg destacou que o momento atual é o "momento certo" para que o documento orientador da Aliança seja revisto porque "o ambiente securitário" alterou-se nos últimos 10 anos.
"No atual conceito, não abordamos a mudança no equilíbrio de poder nem as consequências securitárias da ascensão da China. Também mal mencionamos as transições climáticas, que afetam seriamente a nossa segurança, e temos de abordar este assunto no novo conceito estratégico", afirmou.
Nesse âmbito, o secretário-geral referiu que a atualização do documento tem o "amplo apoio dos Aliados" e precisou que "espera que os líderes da NATO concordem em iniciar o processo" que encarregará Stoltenberg de "trabalhar numa revisão e atualização" do conceito estratégico.
"Precisamos de atualizar o nosso conceito estratégico, precisamos de reafirmar o nosso compromisso com os nossos valores fundamentais e precisamos de utilizar o conceito estratégico para fortalecer a ligação entre a América do Norte e a Europa", defendeu.
O processo de reflexão NATO 2030 foi lançado por Jens Stoltenberg em junho de 2020, após os líderes dos Estados-membros da Aliança terem mandatado o secretário-geral para que levasse a cabo uma reflexão sobre o futuro da Aliança.
O processo -- que, até ao momento, já contou com um relatório publicado por um grupo de especialistas selecionado por Stoltenberg, em novembro de 2020, e com o estabelecimento de um "grupo de jovens líderes" para o aconselharem -- desembocará na apresentação de propostas aos líderes dos Estados-membros da NATO na próxima cimeira conjunta, cuja data ainda está por anunciar.
Os ministros da Defesa da NATO encontram-se reunidos numa cimeira virtual de dois dias, onde, após terem discutido hoje as propostas decorrentes do processo NATO 2030, discutirão na quinta-feira as missões da Aliança no Afeganistão e no Iraque.
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