Autoridades sul-africanas avisam que a "batalha ainda não terminou"

Um ano após o primeiro caso de infeção pelo novo coronavírus na África do Sul, o medo deu lugar à esperança, mas as autoridades avisam que "a batalha ainda não terminou" no país mais afetado pela pandemia no continente africano.

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Lusa
05/03/2021 12:27 ‧ 05/03/2021 por Lusa

Mundo

Covid-19

A 05 de março de 2020 era detetada a primeira infeção, na província do KwaZulu-Natal, litoral do país, imporrtada de Itália.

Desde então, as autoridades da saúde sul-africanas registaram 50.366 mortes associadas à covid-19 e mais de 1,5 milhões de pessoas infetadas com o coronavírus SARS-CoV-2, sendo hoje o KwaZulu-Natal a segunda província mais afetada do país, depois de Gauteng, com mais de 300 mil casos de infeção e cerca de mil mortes.

Hoje, "a batalha ainda não terminou, embora haja mais esperança um ano depois com a vacinação em curso", declarou o ministro da Saúde sul-africano, Zweli Mkhize, durante uma visita na manhã de hoje ao Grays Hospital, no KwaZulu-Natal, para assinalar a data.

"Tive de ligar para o Presidente e disse-lhe que esta é uma chamada que gostaria de nunca ter feito e que era para confirmar que tínhamos o primeiro paciente covid-19 positivo identificado na África do Sul", recordou Mkhize.

"Há muito mais esperança hoje do que o medo que nos abalou em 5 de março de 2020. Vemos esperança, vemos otimismo, mas sabemos que ainda não acabou porque ainda temos que usar a máscara, que higienizar e manter o distanciamento social", sublinhou.

O Governo sul-africano declarou muito cedo o "estado de calamidade" após o aparecimento do vírus SARS-CoV-2 país em março do ano passado, colocando em prática algumas das medidas de contenção mais rigorosas do mundo.

Na opinião da investigadora Cheryl Cohen, do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD, na sigla em inglês), o confinamento imediato implementado pelas autoridades da saúde sul-africanas "foi impressionante e ainda se destaca em termos de resposta da África do Sul".

"Julgo que a África do Sul, comparativamente a muitos outros países, enfrentou a pandemia de covid-19 de forma muito séria. Nós reconhecemos desde muito cedo que tínhamos de atuar imediatamente, caso contrário haveria uma pandemia de enormes proporções e por isso implementámos um controlo muito rigoroso desde muito cedo", referiu Cheryl Cohen.

A académica sul-africana salientou hoje, em declarações a uma televisão local, que as primeiras medidas de contenção "certamente contribuíram para abater a curva e atrasar a propagação da primeira vaga, o que deu algum tempo para responder".

"Sabemos agora como o vírus se propaga e como nos proteger. Atualmente é relevante perceber a trajetória do vírus, porque é que se agrava, porque diminui de intensidade e, nomeadamente, alguns aspetos importantes da resposta do sistema imune do corpo humano, como se protege contra a infeção e como é que esses aspetos do sistema imune ao interagirem com o vírus levam à mutação deste e possivelmente ao desenvolvimento de novas estirpes", salientou.

A académica sul-africana do NICD considerou que o desenvolvimento recente mais marcante na covid-19 "é o surgimento de novas variantes e a evidência crescente de que algumas dessas variantes têm o potencial de escapar a diferentes tipos de resposta imune", uma área que, defendeu, exige mais estudo.

Recentemente, uma investigação preliminar feita na África do Sul pretendeu demonstrar que as pessoas infetadas com a estirpe do SARS-CoV-2 detetada no país têm maior imunidade a outras variantes.

Identificada no final de 2020, a variante 501Y.V2 detetada na África do Sul é atualmente a dominante no país, o mais afetado pela pandemia em todo o continente, com mais de 9 milhões de testes de covid-19 realizados desde março do ano passado.

No domingo, o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, assinalou que o país está "claramente fora da segunda vaga", destacando a queda acentuada do número de novas infeções desde o pico registado no início de janeiro.

Todavia, os especialistas sul-africanos em saúde pública consideram que a pandemia de covid-19 "veio para ficar" e, um ano depois, os sul-africanos procuram encontrar uma "nova normalidade" perante o agravamento das desigualdades sociais e da situação orçamental do país, que era frágil antes da crise sanitária e que se deteriorou acentuadamente no ano passado.

"A situação é preocupante tanto a nível global como aqui na África do Sul, perdemos imensos postos de trabalho e negócios, há empresas que encerraram de vez, a recuperação está a ser mais lenta do que se antecipava no ano passado", disse a ministra do Turismo, Mmamoloko Kubayi-Ngubane.

O desemprego atingiu um nível recorde histórico no país no final de 2020, com mais de 11 milhões de desempregados, ou seja, 32,5% da população, principalmente a faixa de trabalhadores entre os 25 e 34 anos.

"Este ano estamos confrontados com um exercício de equilíbrio excecionalmente difícil", reconheceu o ministro das Finanças, Tito Mboweni, na apresentação do Orçamento de Estado, apresentado em 24 de fevereiro ao parlamento sul-africano.

"De um lado, há uma pandemia muito agressiva (...), do outro, uma economia fraca, com uma taxa de desemprego maciça", frisou.

A África do Sul, a economia mais industrializada do continente, foi fortemente afetada pela covid-19 e fez da vacinação uma prioridade, destinando 568 milhões de euros a este programa no Orçamento do Estado.

A campanha de vacinação, ainda lenta, só começou em fevereiro, e os cientistas locais temem a chegada da terceira vaga com a aproximação do inverno, entre maio e junho.

Pelo menos 83.570 funcionários da saúde foram vacinados desde 17 de fevereiro, na primeira fase do programa de vacinação, com o primeiro lote de vacinas da farmacêutica Johnson & Johnson, segundo as autoridades da saúde.

A meta do Governo sul-africano é vacinar dois terços da população de 59 milhões de habitantes até ao final do ano.

Leia Também: África do Sul com excesso de mortes muito superior às vítimas da Covid

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