Svetlana Tikhanovskaia falava aos jornalistas depois de ter marcado presença numa manifestação de solidariedade para com os presos políticos na Bielorrússia, que hoje reuniu num miradouro em Lisboa cerca de meia centena de pessoas.
"Esperamos que Portugal seja de grande utilidade, ao nível da União Europeia (UE) e também a nível nacional. Mostraram o seu apoio e estamos gratos por aquilo que já fizeram, por aquilo que estão a fazer e por aquilo que irão fazer enquanto têm a presidência do Conselho" da UE, disse a líder da oposição bielorrussa, que iniciou na quinta-feira uma visita a Portugal, que se prolonga até domingo.
Nos últimos dias, a agenda de Svetlana Tikhanovskaia foi marcada com encontros com o primeiro-ministro português, António Costa, e com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Frisando a empatia que sentiu em Portugal em relação à situação que se vive na Bielorrússia, Svetlana Tikhanovskaia realçou que "o apoio de países democráticos é extremamente importante" para as causas da oposição bielorrussa.
"Porque queremos que a nossa revolução se mantenha pacífica, não queremos nenhuma vítima, nenhuma violência", disse a representante, indicando que a estratégia da oposição bielorrussa "não mudou muito desde o início".
E prosseguiu: "O nosso principal objetivo é novas eleições. E para atingir essas novas eleições, precisamos de um diálogo pacífico entre as pessoas e o regime. E para atingir esse diálogo, precisamos de colocar pressão sobre [o Presidente Alexander] Lukashenko e o seu círculo".
Nesse sentido, e com a cidade de Lisboa como pano de fundo, Svetlana Tikhanovskaia exortou a Europa a ter uma ação corajosa.
"Chegou o momento para a Europa mostrar que os valores dos direitos humanos não são apenas palavras (...), mas que consegue atuar de forma corajosa e rápida, porque o tempo está a correr, porque existem pessoas a sofrer todos os dias", disse.
Quando questionada sobre o recente pedido da Bielorrússia à Lituânia para a sua extradição, Svetlana Tikhanovskaia (que procurou refúgio na capital lituana, Vilnius) classificou o pedido como "estranho", mas afirmou "não ter medo".
"Porque sei que a amiga Lituânia, como outros países europeus, não me vão extraditar. Sinto-me segura na UE", declarou.
Já passavam das 16:00 quando a líder da oposição bielorrussa chegou ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, o local escolhido pela Associação PRADMOVA, liderada por representantes da comunidade bielorrussa em Portugal, para organizar uma ação de solidariedade para com os 259 presos políticos que atualmente existem, segundo a organização, na Bielorrússia.
Acompanhada por uma visível e robusta equipa de segurança, a opositora foi recebida com palmas e palavras de ordem, tendo posteriormente dirigido algumas palavras em bielorrusso às pessoas presentes no local.
"Democracia para a Bielorrússia", "Bielorrússia é parte da sociedade europeia" ou "Um regime terrorista está a matar a nossa nação" eram algumas das frases escritas em cartazes exibidos pelos participantes na ação, alguns dos quais também transportavam bandeiras brancas e vermelhas (associadas à oposição bielorrussa) e fotografias de vários presos políticos, incluindo do opositor russo Alexei Navalny.
Na ação também marcaram presença representantes da comunidade ucraniana em Portugal.
Entre flores, quadros e outras prendas oferecidas a Svetlana Tikhanovskaia no decorrer da ação, a Associação PRADMOVA preparou um momento de música ao vivo onde o fado foi o protagonista.
Com o olhar sob a cidade de Lisboa, e ao som da guitarra portuguesa, a líder da oposição bielorrussa ouviu três fados, um gesto que segundo Katerina Drozhzhq, representante da Associação PRADMOVA, quis simbolizar a união dos dois países.
Ainda durante a ação, onde o distanciamento necessário entre as pessoas (devido à atual pandemia) não foi cumprido em vários momentos, foram assinados postais, incluindo por Svetlana Tikhanovskaia, para enviar para os presos políticos bielorrussos.
A Bielorrússia atravessa uma crise política desde as eleições de 9 de agosto, que segundo os resultados oficiais reconduziram o Presidente Alexander Lukashenko, no poder há 26 anos, para um sexto mandato, com 80% dos votos.
A oposição denuncia a eleição como fraudulenta e milhares de bielorrussos têm saído às ruas por todo o país para exigir o afastamento de Lukashenko, manifestações reprimidas com violência pelas forças de segurança da Bielorrússia.
A principal figura da oposição, Svetlana Tikhanovskaia, reivindica a vitória nas presidenciais e acusa o Governo de fraude eleitoral.
A UE não reconhece os resultados das eleições bielorrussas de agosto e o Conselho Europeu decidiu prorrogar até fevereiro de 2022 as sanções aplicadas aos apoiantes do regime de Lukashenko.
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