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Historiador pede a presidente angolano "gesto simbólico" contra corrupção

O historiador congolês Jean-Michel Tali defendeu hoje que o Presidente de Angola deve assumir "um gesto simbólico" na luta contra a corrupção, investigando figuras próximas de si.

Historiador pede a presidente angolano "gesto simbólico" contra corrupção
Notícias ao Minuto

09:22 - 13/03/21 por Lusa

Mundo Angola

Em entrevista à Lusa, o historiador Jean-Michel Mabeko-Tali defende que João Lourenço deve atender "a alguma das reclamações da opinião pública em relação à luta contra a corrupção, que é o facto de não continuar a poupar aparentemente algumas das figuras importantes que trabalham com ele ou estão dentro do seu sistema".

A abertura de investigações a figuras do atual regime constituiria "um gesto simbólico neste sentido teria algum efeito em relação à imagem dele próprio [João Lourenço] e do trabalho que está a fazer", defendeu Jean-Michel Mabeko-Tali.

Para o professor titular da cátedra de história de África na Universidade de Howword (EUA), João Lourenço herdou uma "situação realmente difícil. Um país que estava de joelhos de todos os pontos de vista, mesmo em termos de valores morais", pelo que "não se pode esperar remédios" para uma situação como esta em tão curto tempo.

Até às próximas eleições, dentro de ano e meio, "não é tempo suficiente" para que João Lourenço resolva "os problemas atuais, que são imensos", frisou.

Por outro lado, a luta contra corrupção "não lhe está a deixar muitos amigos", acrescentou o historiador.

"A opinião angolana andou muito acesa em relação a isto, ou seja, ao caso do chefe de gabinete de João Lourenço [Edeltrudes Costa, suspeito de estar envolvido em fraudes ainda no tempo do antigo Presidente José Eduardo dos Santos] e outras pessoas que vieram do antigo regime e ainda estão à sua volta, daí a dúvida acerca do seu trabalho", afirmou.

A "tentativa de acelerar a luta contra a corrupção tem o risco de, se não for bem gerida, criar problemas dentro do seu próprio partido político", especificou, dando como exemplo as "oposições internas" dentro do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA).

"A corrupção enraizou-se de tal maneira na sociedade angolana, que qualquer combate a esta iria criar problemas", afirmou na entrevista à Lusa, por telefone, a partir de Washington, onde vive.

Por isso, embora as manifestações que estão a acontecer em Angola possam ser espontâneas "em grande parte" e o reflexo dos problemas económicos e sociais do país, nomeadamente do descontentamento de uma juventude que não tem emprego, sobre outra parte dos protestos nas ruas o académico tem as suas "dúvidas sobre o que estará por detrás" delas.

Para o académico e investigador congolês, "o que se passa neste momento em Angola é o rescaldo de décadas de problemas acumulados, quer por causa da guerra, quer por causa da uma gestão problemática do país."

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