UE insta China a "garantir liberdade de imprensa"

O Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE) instou hoje a China a "garantir a liberdade de expressão e de imprensa", após um jornalista da televisão britânica BBC ter deixado o país na quarta-feira por estar a sofrer ameaças.

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© NOEL CELIS/AFP via Getty Images

Lusa
02/04/2021 11:57 ‧ 02/04/2021 por Lusa

Mundo

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"A UE apela à China para que assegure o cumprimento das suas obrigações ao abrigo da lei nacional e internacional, e garanta a liberdade de expressão e de imprensa, tal como consagradas na Constituição da República Popular da China e na Declaração Universal dos Direitos Humanos", lê-se numa nota da porta-voz do SEAE, Nabila Massrali.

Aludindo à saída do correspondente da BBC na China, John Sudworth, e da sua mulher e correspondente na China do canal televisivo irlandês RTE, Yvonne Murray, o SEAE refere que a decisão dos dois jornalistas surgiu após "um longo período de assédio a Sudworth e aos seus colegas da BBC pelas autoridades, que incluiu vigilância, ameaças de ações legais, obstrução, intimidação e a publicação 'online' por 'media' oficiais de vídeos que o nomeavam pessoalmente".

"Este é o mais recente caso de correspondentes estrangeiros a serem forçados a sair da China devido ao assédio continuo e a obstruções ao seu trabalho, a que se acrescenta a expulsão de 18 correspondentes no ano passado", frisa Massrali.

A porta-voz avança que a UE "já expressou repetidamente as suas preocupações à China sobre as restrições de trabalho indevidas impostas aos jornalistas estrangeiros, assim como sobre os relatos de assédio com eles relacionados", adiantando que o "profissionalismo e a objetividade" dos correspondentes na China é "cada vez mais posto em questão".

"Os correspondentes estrangeiros desempenham um papel importante na transmissão de informação entre fronteiras e contribuem para reforçar a compreensão mútua entre a UE e a China", destaca.

Nabila Massrali refere ainda que a UE irá continuar a "defender o papel dos meios de comunicação independentes e credíveis em todo o mundo" e salienta que o bloco está "empenhado" em "salvaguardar a liberdade e o pluralismo dos meios de comunicação social, bem como em proteger o direito à liberdade de expressão 'online' e 'offline', incluindo a liberdade de ter opiniões de receber e transmitir informações sem interferência".

Na quarta-feira, John Sudworth declarou ter saído da China após "ameaças" ligadas à sua cobertura do modo como são tratados os muçulmanos uigures no Xinjiang, que Pequim considerou "tendenciosa".

O correspondente da BBC, que fazia com regularidade reportagens desafiando as autoridades, mudou-se para Taiwan.

"A pressão e as ameaças das autoridades depois das minhas informações foram constantes. Mas intensificaram-se nos últimos meses", declarou Sudworth à rádio BBC 4.

O jornalista é o alvo privilegiado dos 'media' estatais chineses na sequência de reportagens sobre o tratamento dado aos uigures no Xinjiang (noroeste da China).

A imprensa oficial acusava nomeadamente John Sudworth de cobertura "tendenciosa" e de "deformação dos factos" ao fazer eco de alegações de "violações" ou de "trabalho forçado" naquela região.

Foi anunciado oficialmente em meados de março que o jornalista tinha sido alvo de uma queixa na justiça devido às suas "notícias falsas". O processo poderia impedi-lo de abandonar o território.

"Se John Sudworth considera as suas reportagens justas e objetivas deveria ter a coragem de enfrentar esta ação judicial", reagiu, numa conferência de imprensa regular, na quarta-feira, Hua Chunying, uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

A cobertura de assuntos sensíveis é complicada para os jornalistas estrangeiros. Vários foram seguidos, presos ou receberam vistos de validade reduzida como retaliação.

A China expulsou em 2020 pelo menos 18 jornalistas estrangeiros de jornais norte-americanos, numa medida retaliatória contra Washington, que forçou várias dezenas de correspondentes chineses a abandonarem os Estados Unidos.

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