"É claro que estamos preocupados com esses anúncios provocativos. Mas temos a convicção de que a via diplomática é a única forma de se avançar e que o diálogo, mesmo indireto, é a melhor forma de se chegar a uma solução", disse a porta-voz da Casa Branca Jen Psaki.
Dois dias depois da alegada sabotagem em instalações de enriquecimento em Natanz, que Teerão atribui a Israel, o ministro adjunto dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araghchi, citado pela agência noticiosa oficial Irna, anunciou hoje que o Irão vai começar a enriquecer urânio a 60%.
Araghchi garantiu que a intenção de Teerão foi comunicada numa carta a Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), facto já confirmado pela organização com sede em Viena.
Na carta enviada a Grossi, Araghchi declara que mil novas centrifugadoras, com uma capacidade 50% superior, irão reforçar as existentes em Natanz e substituirão as máquinas estragadas" pela explosão ocorrida no domingo neste complexo nuclear no centro do Irão, adianta a Irna.
Segundo a AIEA, Rafael Grossi já informou os Estados membros da decisão iraniana, numa altura em que também decorrem negociações, na capital austríaca, para tentar salvar o acordo sobre o programa nuclear iraniano.
Atualmente o Irão enriquece urânio a 20%, muito além do limite de 3,67% que lhe é imposto pelo acordo nuclear com as grandes potências assinado em Viena em 2015.
Uma refinação de 60% colocará a República Islâmica em posição de passar rapidamente para os 90% necessários a uma utilização do minério para fins militares.
A Irna não precisou em que data começará a ser aplicada a medida, mas segundo a PressTV, canal de informação em inglês da televisão estatal, tal acontecerá a partir de quarta-feira.
A decisão de Teerão foi condenada pela França, que a considera um "desenvolvimento grave" que "necessita de uma resposta coordenada" dos países envolvidos nas negociações.
"Este é um desenvolvimento grave, que condenamos e que exige uma resposta coordenada" da França, Alemanha e Reino Unido com os EUA, Rússia e China, afirmou a presidência francesa, precisando que essa coordenação está "em curso".
As discussões para salvar o acordo, que deveriam ser retomadas quarta-feira em Viena, foram adiadas para o dia seguinte, indicou fonte diplomática russa.
O anúncio de Teerão marca um significativo agravamento da situação e, segundo a agência noticiosa norte-americana Associated Press, pode resultar em ações por parte de Israel - cujo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, prometeu nunca permitir que Teerão obtivesse a arma nuclear - e aumentar as tensões no Médio Oriente.
A República Islâmica sempre negou pretender obter a arma nuclear, argumentando com proibições morais e religiosas.
O Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), como é designado, foi assinado em Viena em 2015 entre o grupo dos 5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China - mais a Alemanha) e o Irão. Teerão aceitava limitações ao seu programa nuclear em troca do levantamento de sanções internacionais.
Em 2018, os Estados Unidos abandonaram o acordo e restabeleceram duras sanções à República Islâmica, que, um ano depois, começa gradualmente a infringir os limites estabelecidos pelo pacto.
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