O relatório da Viginum, a organização francesa de combate à interferência digital estrangeira, sublinha que é "legítimo considerar que existe o risco de transposição destes métodos operacionais para o debate público digital francófono, de forma a chegar a um público francês".
O organismo público examinou "a existência de fenómenos digitais inautênticos com o objetivo de interromper a condução adequada das eleições romenas".
O Tribunal Constitucional anulou as eleições em 06 de dezembro, 48 horas antes da segunda volta, para a qual Georgescu era favorito, por suspeita de interferência de um "agente de um Estado estrangeiro", em referência à Rússia, e de irregularidades no financiamento da campanha.
O candidato de extrema-direita Calin Georgescu saiu inesperadamente na frente na sondagem com mais de 20% dos votos, fazendo campanha sobretudo na plataforma TikTok.
Posteriormente, as autoridades romenas desclassificaram relatórios do serviço de informações que relatavam "manipulação observada no TikTok e o uso secreto de influenciadores para fins de propaganda eleitoral".
A Comissão Europeia anunciou, em meados de dezembro, a abertura de um inquérito contra a rede social suspeita de ter falhado nas suas obrigações.
Durante uma visita à Roménia, o ministro francês para os Assuntos Europeus, Benjamin Haddad, apelou para que Bruxelas atue "rapidamente e leve a sério" este tipo de ameaça híbrida, embora os procedimentos possam muitas vezes arrastar-se.
"Esperamos que a Comissão investigue as plataformas. Temos ferramentas, vamos usá-las", frisou à agência France-Presse (AFP) em Bucareste, insistindo na necessidade de "reforçar as nossas capacidades" e "garantir a proteção dos processos eleitorais" face à "ingerência russa cada vez mais frequente contra os países da UE e a sua vizinhança".
No seu relatório, a Viginum explica que a "manobra informativa" consiste em mobilizar milhares de contas para "ampliar artificialmente a popularidade de palavras-chave" associadas a um candidato "e, assim, manipular o algoritmo de recomendação do TikTok para que apareçam nos feeds de notícias dos utilizadores".
A sobrerrepresentação do candidato em questão entre os utilizadores baseia-se também na "exploração da popularidade dos influenciadores pagos de forma dissimulada".
Na Roménia, vários "confirmaram ter recebido entre algumas dezenas e algumas centenas de euros para publicar este conteúdo".
O patrocinador por detrás da campanha de apoio a Georgescu não foi identificado, segundo o relatório do governo francês.
A Viginum recordou que o TikTok "garantiu que aplicou 'rigorosamente as [suas] regras contra a desinformação eleitoral' e afirma que é 'categoricamente falso afirmar' que a conta de Calin Georgescu teria sido tratada de forma diferente da dos outros candidatos".
O novo governo de coligação romeno, liderado pelo socialista Marcel Ciolacu, decidiu que as eleições presidenciais na Roménia terão lugar a 04 de maio, com uma possível segunda volta a 18 de maio, caso nenhum dos candidatos obtenha a maioria absoluta.
Para além da Roménia, também a Geórgia e a Moldova foram afetadas pela interferência digital em contexto eleitoral.
Leia Também: Candidato presidencial romeno pró-russo questiona existência da Ucrânia