As pessoas detidas em França são "responsáveis por crimes de terrorismo gravíssimos que deixaram uma ferida que ainda está aberta", salientou Mario Draghi, numa breve declaração.
"A memória desses atos bárbaros ainda está viva na consciência dos italianos", reforçou o chefe do governo de Itália.
Estas declarações de Draghi surgiram poucas horas depois de a Presidência francesa ter anunciado que sete antigos membros das Brigadas Vermelhas italianas, condenados em Itália por atos de terrorismo cometidos nas décadas de 1970 e 1980, tinham sido detidos em território francês no seguimento de um pedido de detenção e de extradição requerido pelas autoridades italianas.
Três antigos elementos das Brigadas Vermelhas continuam a ser procurados em França, uma vez que o pedido de Roma abrangia um total de 10 pessoas.
"Acaba de terminar uma operação antiterrorista em França, na qual foram detidos sete ex-membros das Brigadas Vermelhas italianas. Uma operação impressionante que contou com a colaboração das autoridades francesas e italianas, com a participação do especialista em segurança da nossa embaixada em Paris", referiu, por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Luigi di Maio, através das redes sociais.
Lembrando igualmente que os detidos em questão tinham sido acusados e condenados em Itália "por atos de terrorismo relacionados com acontecimentos sangrentos entre os anos 70 e 80", o chefe da diplomacia italiana prometeu um "máximo empenho na luta contra o crime e o terrorismo".
Também o secretário de Estado do Interior italiano, Carlo Sibilia, saudou as detenções em solo francês, classificando a operação como um "resultado histórico".
A decisão de transmitir à justiça "os pedidos italianos, que originalmente diziam respeito a 200 indivíduos" foi tomada diretamente pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, que desta forma decidiu resolver um velho litígio com Roma sobre os antigos membros das Brigadas Vermelhas que se refugiaram em França.
A medida "está estritamente de acordo com a 'doutrina de Mitterrand' [associada ao nome do ex-Presidente francês socialista François Mitterrand, que esteve no poder de 1981 a 1995]", datada de 1985 e que consiste em conceder asilo político a antigos elementos das Brigadas Vermelhas, exceto aos que cometeram crimes de sangue, precisou o Eliseu (Presidência francesa) num comunicado.
A elaboração desta lista de 10 nomes é resultado "de um importante trabalho preparatório bilateral, de vários meses" e diz respeito aos autores de "crimes mais graves", referiu a Presidência francesa, sublinhando ainda que Emmanuel Macron desejava resolver este assunto que "Itália vinha a pedir há vários anos".
"França também foi afetada pelo terrorismo e entende que as vítimas precisam que se faça justiça", acrescentou a mesma declaração.
Desde 1981, apenas dois decretos de extradição foram assinados em França, sob a Presidência de Jacques Chirac: o de Paolo Persichetti em 1995, extraditado para Itália em 2002, e o de Cesare Battisti em 2004, o mais procurado dos antigos membros das Brigadas, que vivia em território francês desde 1990 e que se refugiou posteriormente em outros países.
Cesare Battisti seria capturado em janeiro de 2019 na Bolívia.
A Justiça francesa deve pronunciar-se em breve sobre a extradição dos detidos.
Entre o romantismo revolucionário e a luta antifascista, uma juventude radical e desiludida semeou o terror em Itália nos anos 70 e 80.
Entre os vários grupos ultra-esquerdistas então formados, as Brigadas Vermelhas foram um dos mais estruturados, com o registo de assassínios de sindicalistas, magistrados, jornalistas, polícias e responsáveis políticos.
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